HDHEL
Irineu Lima de Albuquerque
I
Estavam agonizando de dor deitados
no chão, totalmente nus. Nas costas duas marcas e sangue. Não possuíam nenhum
pelo no corpo, nem mesmo sobrancelhas, imaculados, sem nunca ter sofrido uma
doença. Era a primeira vez que aquele sentimento de agonia os martirizava.
Pobres seres caídos.
– Hdhel! – Gritou Maadel – Que
sensação martirizante é essa?
– Eles chamam de dor, já sabia que
eles eram frágeis, que se quebravam com facilidade e sofriam de sensações de
todos os tipos, mas nunca imaginei que fosse tão intenso. – Nesse instante
Maadel não suportando desmaia – Maadel! Fale comigo!
Numa sensação angustiante, Hdhel
levanta, com sua nudez antes inocente exposta. Demonstrando certa dificuldade
para se equilibrar, pela falta das asas extirpadas. Por qual motivo estavam caídos?
A memória o traía. Lembrava-se de uma guerra no paraíso. Um lugar totalmente
imaculado, que viu o sangue de irmãos. Seres imortais que mesmo retalhados
ainda tinham consciência do universo ao redor. E o Grande? Onde estará?
Hdhel chega junto de Maadel e o
ampara, colocando a cabeça do amigo em suas pernas. Nesse instante se da conta
do frio daquela noite, e sente a necessidade de aquecimento. Abraça forte o
amigo junto ao peito e sente o calor que antes não existia, a pulsação da
circulação e o peito arfante com a respiração. Tudo era novidade. Viviam
literalmente pela primeira vez!
– Hdhel... Companheiro... O que
faremos agora?
– Eles nos descobriram amigo! Jogaram-nos
no fosso sem fim. Que pelo visto não era assim sem fim. Pois aqui estamos nós,
nesse lugar estranho, provavelmente é a Terra, onde vivem os homens. Precisamos
caminhar agora e descobrir um lugar para descansarmos. Não podemos ficar aqui.
– Falaste corretamente agora. Pois
nunca antes senti tais coisas. Meu corpo todo parece doer. Tu já reparaste no
céu? As estrelas agora parecem tão distantes.
– Observastes aquele caminho escuro?
Vindo daquele lado para cá? Vamos segui-lo. Quem sabe possamos encontrar
auxílio. – Comentou Hdhel. – Levanta-te amigo. Apoia-te em meus ombros caso não
consigas andar.
– Não te preocupes Hdhel, tenho a
mesma força que tu tens.
– Que força? Não temos mais nem
nossas asas! E aqui tudo é diferente. A realidade segue outro curso. Mas é
isso. Se tu achas que podes caminhar, põe-te de pé e segue-me.
E foram os dois naquela estrada. A noite
estava limpa e no baixo horizonte a lua brilhava pálida. Já era por volta das
três da manhã quando avistaram uma casa, e exaustos desabaram na varanda em
sono, pela primeira vez em suas existências.
II
Naquela manhã de domingo Luiza com
uma sensação de cansaço e um peso nas costas de anos de trabalho sem fio, foi
até o quarto de Carlinhos e conferiu seu sono, ainda eram cinco e quarenta e
cinco da manhã. Seu filho dormia tranquilo apesar dos acontecimentos dos
últimos dias. Marcelo, seu marido, envolveu-se num acidente de trânsito. Um
inconsequente dirigindo embriagado avançou de uma estrada secundária sem se
preocupar com outros automóveis. Entrou na estrada principal a quase cem por
hora, derrapando na pista. Quando o carro de João Carlos vinha a oitenta na
estrada, e avistou aquela manobra, tentou então desviar jogando o carro para o
lado oposto. Entretanto, o carro tombou e capotou várias vezes para fora da
estrada. Por sorte João estava com o cinto de segurança. O imprudente, um
quilômetro à frente, chocou-se numa árvore ao sair da estrada. Foi projetado
para o para-brisa e pereceu imediatamente.
Um carro logo atrás parou e seus ocupantes
foram acudir João. Apreensivos, não tocaram nele.
– Meu, liga ai para pedir ajuda. –
Retrucou Antônio – O cara precisa sair dali, “vamo” tirar ele.
– “Tu é doido!” Nunca viu na TV os
“homi” falarem para não mexer em gente que sofre acidente, Mano. Vou ligar pro
Paim e ver o que ele diz.
Lucas o segundo irmão e mais velho, liga
para o pai e conta que a três quilômetros de casa aconteceu um acidente, e que
uma pessoa necessitava de ajuda. O pai, Seu Joaquim pede para que eles fiquem
tranquilos, e informa que ligaria para o hospital da cidade e solicitaria uma
ambulância e também ligaria para a delegacia.
–
Mas atenção! De forma alguma mexam na pessoa no carro! Você viu vazamento de
gasolina?
–
Não, Paim – Respondeu Lucas.
–
Certo, pois fiquem aí que eu já vou chegando. – Dez minutos depois Seu Joaquim
chega ao local muito apreensivo. – Meus filhos, a única ambulância disponível
para essa região está atendendo outro caso cabeludo. E na delegacia informaram
que estavam enviando uma viatura. – Aproximaram-se do carro de João. O carro
estava capotado e esse estava pendurado no banco, preso pelo cinto de segurança.
–
O cara “tá” vivo Paim! – Gritou Antônio.
Olharam aquele quadro e Seu Joaquim
ponderou a respeito mentalmente. Precisaria capitular corretamente, não queria
arriscar causar um problema mais grave àquela pessoa, por uma ajuda imprudente.
Entretanto, caso o apoio demorasse a chegar teriam que fazer alguma coisa
urgente. Era um homem vivido e já viu muita gente morrer por atendimento
imprudente
O tempo passava e nenhuma ajuda
chegava. Decidiram agir. Seu Joaquim era dono de uma madeireira e sempre tinha
alguma peça de madeira no carro. Pegou uma lamina de compensado de quatro
centímetros e com muito cuidado, os três soltaram o cinto de segurança e
apoiaram com o máximo cuidado possível aquele acidentado.
– Como foi que isso aconteceu
garotos? – Muito nervoso perguntou.
– “Outro carro cortou ele na estrada”,
vi tudo, e no desespero para desviar, acabou capotando. – Pondera Antônio.
Suspenderam a lâmina de madeira para
colocar atrás do carro, e nessa hora, gemendo de dor, João Carlos diz um nome –
Maria Luiza!
– Calmo companheiro! Você sabe o que
aconteceu? Sabe que dia é hoje? – Pergunta Seu Joaquim para testar o nível de
consciência daquele homem.
– Segunda-feira. Ah! Que dor! O que
aconteceu?
– Fique tranquilo, vamos cuidar de
você. Procure não se mexer. Qual seu nome? Tem alguém que a gente possa chamar?
– Sim, minha esposa, Luiza. Mas ela
não deve está em casa. Levou nosso filho para a escola. Meu nome é Carlos.
Quanto tempo fiquei desacordado?
– Já tem quase duas horas que o
carro tombou e somente agora você despertou. Replica Lucas. – Passa das dez
agora.
Não adiantava mais nada. Carlos
perdera a consciência. Então eles tocaram dali para o hospital da cidade. No
caminho ligaram para a delegacia informando que estavam transportando uma
pessoa, disseram o nome de Carlos e da esposa, mas não sabiam mais nada, pois
ele voltara a perder a consciência. Então solicitou ao delegado que ligasse ao
hospital que se preparassem para recebê-los para os devidos cuidados. Lá
chegando, uma equipe de pronto-atendimento os recebeu e encaminharam Carlos à
emergência.
Através dos documentos de Carlos, o
delegado verificou o nome completo e o endereço e ligou para Luiza. Quarenta e
cinco minutos depois, Luiza entrou no hospital, e na recepção indicaram-na as
pessoas que trouxeram seu marido. – “Pelamordedeus” o que aconteceu? Perguntou
se dirigindo ao homem mais velho dos três, Seu Joaquim.
Seu Joaquim, um homem em torno dos
sessenta anos, levanta e observa o desespero de Luiza, que era uma bela mulher.
Cabelos negros, assim como os olhos, pele muito branca, e aparentava ter menos
de trinta anos. Estava trajando uma calça jeans e uma blusa branca, e como de
praxe naquela região, um par de botas até a altura dos joelhos. – Meus filhos
encontraram seu marido capotado na estrada, e me chamaram para ajudar. O carro
dele foi desviar de outro. Que já descobrimos, através do delegado, que pouco a
frente bateu e o ocupante morreu. Estava embriagado.
Luiza tombou, mas foi amparada por
Lucas. Que a colocou num sofá da recepção do hospital. – Ajudem aqui! A moça
desmaiou. – Uma enfermeira correu e observou os sinais. E constatou que ela
estava bem. Usou uma substância de cheiro forte que despertou Luiza.
–
João Carlos! – Gritou Luiza ao despertar. – Por favor, não me escondam nada,
meu marido? Como ele está?
–
Moça, o “homi” que trouxemos está sendo atendido. Eles estão lá dentro a mais
de duas horas.
Os
minutos passavam lentamente. Seu Joaquim e os filhos resolveram ficar para
amparar Luiza. Ela contou que vive com o marido João Carlos e o filho
Carlinhos, e que a família dela era de Salvador - BA e mudaram-se para Juazeiro
– CE há menos de um ano, onde Antônio Carlos nasceu, mas com a morte dos pais
não tinha mais ninguém, Carlos era filho único. Por esse motivo naquele
momento, Seu Joaquim amparara Luiza.
Meia
hora depois, um médico veio à recepção procurando familiares do paciente João
Carlos. – Desculpem, foram vocês que trouxeram a vítima do acidente na estrada?
–
Doutor, fomos nós que trouxemos. – Responde Seu Joaquim. – Mas essa senhora é a
esposa do rapaz.
–
Ah! Sim! – Titubeia o médico – Desculpe (pigarro), lamentamos muito senhora,
fizemos tudo possível, a-a-apesar de o paciente ter chegado consciente, pois,
pois não quebrou nenhum osso, nem tinha sangramento. Todavia, ele teve uma
parada respiratória, fizemos os procedimentos de ressuscitamento e ele
estabilizou alguns minutos. Mas teve um infarto do miocárdio. No exame
descobrimos que ele tinha uma grande área do músculo cardíaco afetada. Mesmo
que não tivesse sofrido acidente, teria tido um infarto.
–
Meu marido morreu? – Luiza desfaleceu amparada por Seu Joaquim.
–
Rápido enfermeira traga uma maca. – Luiza apresentou queda de pressão e com a
notícia da morte de João Carlos entrou em choque. Despertou após alguns minutos
ainda agitada e comentou do filho, e que precisava pegá-lo na creche.
Provavelmente já teriam tentado ligar para ela.
–
Dona Luiza! – Disse Seu Joaquim. – Não se preocupe, sinto-me na obrigação de
ajudá-la nesse momento. Eu a levo até a creche para pegar o menino, ele fica na
minha casa com minha esposa e depois retornamos ao hospital para as
providências necessárias.
–
Não sei nem como agradecer ao senhor. Nem sei o seu nome ainda! – Fala Luiza
tremendo.
–
Sou Joaquim, e esses são meus filhos Lucas e Antônio, foram eles que
testemunharam todo o ocorrido e ligaram para mim. E então trouxemos seu marido
para o hospital. Mas quem poderia imaginar que ele teria um problema no
coração?! Não sofreu nada no acidente.
III
Luiza
saiu do quarto de Carlinhos se espreguiçando, a passos lentos vai a cozinha
pegar um balde, no qual pretendia tirar leite de umas das vaquinhas que eles
adquiriram tão logo chegaram à cidade e foram se instalar naquele pequeno
sítio. No último ano teria sido só alegria. João Carlos ganhará num golpe de
sorte na Bahia, um prêmio da loteria. Bem verdade que foi com outros cinco, mas
o premio era bom e com os planos que já possuíam de ir morar no Ceará, terra
dos seus pais, com certeza ajudou e muito. Entretanto, os últimos dias foram
muito pesados. Aquele domingo era o sexto dia após a morte de Carlos. Luiza
mantinha-se forte, pois não poderia desabar de forma alguma. Tinha o Carlinhos,
que mais do que nunca precisava de seu apoio.
Eram
seis horas e o dia já ia clareando. Luiza vestia um pijama amarelo, uma calça
comprida e uma camiseta. Encaminhou-se para a porta com o balde para ordenhar
sua vaquinha. Ao abrir a porta, deparou-se com uma cena inusitada. Dois homens
nus em sua varanda. No início tomou um susto e pensou se tratar de safadeza. Um
estava deitado de costas e o outro de lado, e ambos estavam sujos, com
escoriações e havia sangue nas costas. – Será que desovaram cadáveres na minha
varanda? – Pensa Luiza – Depois de tudo que estamos sofrendo nos últimos dias!
– Mas logo observou movimento e viu que os dois respiravam. Deu passos atrás e
foi até o quarto. Retornou em seguida com um lençol e cobriu os dois, que não
despertaram e pretendia ligar para a delegacia. Mas pensou melhor.
–
Ei! Você dois. – Os dois despertaram assustados expondo suas nudezes. Luiza
envergonhada vira o rosto. – Por favor, vocês poderiam se cobrir? – Sem
entender, Hdhel e Maadel, nossos já apresentados caídos (de algum lugar),
encararam Luiza e a mesma repetiu o pedido que se cobrissem com o pano. Somente
então Hdhel entendeu e puxou o lençol cobrindo-os.
–
O que aconteceu a vocês? Por que estão na minha varanda? E por que estão
machucados? Foi um acidente? Precisam de ajuda?
–
Eu sou Hdhel e esse é Maadel, nós somos a... – Calou-se, pois não sabia como
reagiria a mulher. – Nós somos de outro lugar e precisamos de ajuda. Não
sabemos onde estamos.
–
Como não sabem? Aqui é Juazeiro do Ceará. Afinal! Como chegaram aqui se não
sabem onde estão? Vocês foram sequestrados? – Luiza ficou desconfiada.
–
Mais ou menos isso, que dizer, é complicado comentar a respeito. – Retrucou
Hdhel.
–
E os machucados? Você tem a mesma escoriação nas costas. Foram agredidos?
–
Também, mas primeiro quero pedir desculpas por nossa situação, assim sem roupas
na sua casa. Não era nossa intenção. A senhora não teria roupas para nos
emprestar?
–
Meu marido faleceu a pouco e certamente alguma roupa dele deve servir em vocês.
– Luiza entrou e fechou a porta. Caminhou até o quarto. Dali a alguns minutos
retornou e entregou algumas peças de roupa para o dois. – Vocês podem se trocar
ali atrás, tem um banheiro, mas antes se virem de costas para mim, para limpar
suas escoriações. Suavemente com o estojo de primeiros socorros, Luiza,
acocorada, vai limpando os machucados das costas de Hdhel e depois de Maadel. –
Que estranho, o machucado de vocês é exatamente igual. – Rindo Luiza fala: –
Vocês não seriam anjos do céu, não é mesmo?
Maadel,
mais inocente, arregala os olhos encarando Luiza e disse: – Como você sabe? Já
tinha visto outros anjos? – Luiza se assusta e cai sentada. Hdhel com olhar de
reprovação encara Maadel. – Irmão, mas ela sabe. Viu nossos machucados. – Luiza
olha um e o outro, agora já lacrimejando.
–
Oh meu Deus! Um dia já vi meu Anjo da Guarda, mas ele tinha lindas asas e vocês
não têm mais elas! O que aconteceu? Vocês não são mais anjos?
–
Calma senhora, não tire conclusões precipitadas. – Comentou Hdhel.
–
Eu sabia que algo era estranho. Oh meu Deus! Por favor, vocês vieram em missão?
Eu sou católica e sempre acreditei em vocês. Foi por Carlinhos?
–
Como já dissemos, é complicado. Deixe-nos colocar as roupas. Depois
conversamos. – De forma desengonçada os dois levantaram se cobrindo e
caminharam para parte detrás da casa.
IV
–
Maadel, você já consegue lembrar de tudo o que aconteceu? – Pergunta Hdhel
–
Parcialmente irmão. Lembro-me de ter sido agarrado a força como você.
–
Exatamente! Eles nos arrancaram as asas! Eram muitos! E os que tinham forma de
animais eram os mais violentos. Jogaram nossas asas no fosso sem fim e em seguida
nos jogaram. Não queriam sujar as mãos com nossa destruição. Era mais fácil se
livrarem das evidências. No último instante antes eu peguei sua mão.
– Sim, eu me lembro disso. Você segurou minha
mão. Por quê?
–
Assim quando estivéssemos caindo não nos separaríamos. Mas a velocidade da
queda era muito grande e não sei dizer por quanto tempo aquilo aconteceu.
Apenas sei que no último instante você estava quase soltando minha mão e de
repente senti um forte calor, uma luz nos envolveu e fomos arrebatados para o
nada, e quando dei por mim, estávamos caídos naquele local.
–
Puxa Hdhel! É verdade! Não tinha me dado conta disso. Aquele calor envolvente e
subitamente arrebatado. Você acha que foi obra Dele? O Nosso Senhor? Mas se foi
por que intercedeu por nós?
–
Não sei. Mas para Ele tudo é possível! E se tudo sabe, tudo ver, tudo está
escrito, tudo pode fazer. Então deve ter uma razão para tudo isso. Quando fui
convocado para me infiltrar nas hostes guerreiras e investigar uma possível
dissidência, nunca poderia imaginar que acabaria assim. Portanto, deve
realmente existir uma razão e precisamos buscar as respostas e talvez cumprir
uma missão. E pode ter certeza! Nossa presença aqui não passou despercebida.
Temos que descobrir como agir. A qualquer momento poderemos ser atacados. Mas vamos!
Termine de colocar essas roupas. Não entendo essa necessidade de estarem sempre
cobertos dos humanos?! Nossas vestes são usadas apenas nas ocasiões especiais,
nas missões e na hora da luta.
Retornando
para a varanda não encontram Luiza. E percebem a porta aberta. Cautelosamente
avançam para o interior da casa. Ao se acostumarem com a pouca luminosidade
interna, percebem Luiza ajoelhada junto a um altar. Uma cruz na parede, e um pequeno
altar de mármore na parede, com algumas rosas e uma vela acesa. Uma imagem de
Nossa Senhora Aparecida e outra do Padre Cícero. Luiza estava de cabeça baixa
orando e chorando. Agradecendo a Deus a graça de ter dois anjos na sua casa. E
pedindo forças para realizar qualquer que fosse sua missão. Pois aqueles dois
seres celestiais não tinham suas asas e isso poderia ser um péssimo sinal.
–
Senhora Luiza! – Chamou Hdhel. – Está tudo bem? Precisa de alguma coisa?
–
Nunca imaginei que seria agraciada com a presença de algum anjo novamente.
Mesmo vocês sendo anjos caídos! Há alguns anos logo após terminar minha
graduação em Agronomia, pretendia realizar uma viagem a Paris, para conhecer e
descansar um pouco. Estava no Rio de Janeiro. Já a caminho do aeroporto. Quando
subitamente na frente do táxi passa uma bicicleta e o ciclista é atropelado.
Ele tinha quebrado a perna e estava muito machucado. Mesmo sabendo que perderia
o voo, pedi ao motorista de táxi para colocá-lo no carro e seguir para um
hospital. Ficamos uma hora e meia esperando para ele ser atendido. Após o
atendimento constatei que não daria mais tempo de ir ao aeroporto. O rapaz saiu
numa cadeira de rodas.
–
Desculpe-me novamente garoto. – Falou o motorista do táxi. – Não o vi chegar.
Foi tudo tão rápido. Apenas vi você caindo.
–
Não se preocupem! Não vou cobrar nada de vocês. Estou bem. – Falou o jovem
sorrindo.
–
Posso fazer alguma coisa por você? Terei prazer em deixá-lo em casa. Pago a
corrida do táxi. – Eu falei.
–
Muita bondade de vocês dois. O senhor poderia empurrar essa cadeira até o
banheiro? – Pediu o rapaz.
O
motorista do táxi o levou e o deixou entrar. Passaram-se alguns minutos e nada
dele retornar. O motorista resolveu ir até o banheiro. Voltou e disse que o
rapaz não estava mais lá. – Como assim? Ele não poderia ter sumido. Estava com
a perna no gesso. – Eu disse e fui dar uma busca em algumas salas do hospital e
perguntando se alguém teria visto o rapaz, que trajava uma roupa de ciclista
colorida, dessas bem colocadas no corpo e capacete na mão. Não o localizando,
por fim, pedi que o taxista me levasse para casa. Saindo do hospital vi o rapaz
em cima da bicicleta, que não estava nem amassada, sem o gesso e que sem mais
nem menos emitiu uma luz muito forte, e juro que vi assas nas costas dele. E
simplesmente desapareceu. Ao chegar a casa, fiquei sabendo que três horas e
meia depois, o avião que partiu do Rio de Janeiro com destino a Paris, havia
caído no Oceano Atlântico. O que me levou a concluir que um anjo me salvou, impedindo
que embarcasse naquele voo.
–
Depois desse episódio passei a me interessar mais por anjos. Lendo e buscando
tudo que podia. Descobri que o nome do meu anjo da guarda é Laoviah,
relacionado a data de meu nascimento, que é 16 de janeiro de 1984. – Comentou
Luiza.
–
Meu grande Lorde e Senhor! – Exclamou Maadel. – Nesse dia você foi minha
missão! Agora estou lembrando! Aquele anjo era eu. Você ver Hdhel! Isso é um
sinal!
–
Não é possível! – Replicou Luiza. – O seu nome não é Laoviah! E você tinha
cabelos...
–
Claro que é possível senhora. Afinal, como os humanos poderiam saber o nome de algum
anjo? É bem verdade que cada anjo pode ter muitos nomes, ou nenhum. Deve ter
sido obra de algum anjo brincalhão essa dos humanos nos darem nomes. Ou então
pessoas que querem se aproveitar da inocência alheia. Os únicos anjos cujos
nomes são conhecidos são aqueles que estão nos Livros Sagrados. – Explicou
Hdhel. – E quanto à aparência nós podemos nos transmutar e assumir a aparência
que seja necessária para qualquer ação. Nomes são poderosos. De posse do nome
muita coisa pode ser realizada. E outro detalhe, parte da pronuncia dos nossos
nomes se dá a uma frequência muito alta, os ouvidos humanos não conseguem
captar por inteiro. Ou seja, a forma como nos chama não é exatamente como
pronunciamos nossos nomes para você.
–
Agora vocês me deixaram de boca aberta. Que outros poderes vocês possuem? –
Falou Luiza, já caindo no sofá da sala.
–
Bom! No Infinito Eterno o tempo não é linear. Um determinado evento tanto pode
acontecer no passado, presente ou futuro. Depende da perspectiva. – Respondeu
Hdhel.
–
Isso mesmo senhora. Quanto ao evento do passado, no qual eu fui participante
direto [pausa] confesso que o natural das coisas seria que tivesse embarcado
naquele voo e provavelmente teria morrido, lamento dizer isso assim. Mas houve
quebra do fluxo temporal. Uma ordem foi expedida e a missão foi executada. Na
época não fez nenhum sentido, pois qual significado no contínuo tempo teria
aquela ação. A resposta veio agora. Três anos depois do ocorrido. E aqui
estamos nós reunidos de novo. Eu o anjo que providenciou a ação de salvá-la,
usufruindo de sua hospitalidade. Certamente alguma coisa mais virá. Apenas nos
resta esperar. – Cogitou Maadel.
–
E para mim só me resta rezar e pedir a Deus discernimento para entender as Suas
ações! Como diz o ditado: “Deus escreve certo por linhas tortas”. – Ponderou
Luiza.
– Certamente, podemos encontrar no
Livro Sagrado: “Ó profundidade das
riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os
seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!”
Isso só prova que a vontade Dele é plena. E Ele sabe de tudo antes que
aconteça. E Ele não apenas escreve certo como também em linhas certas. Pois
tudo que vem Dele é verdadeiro. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a
vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim.”
– Sábias palavras de Hdhel.
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No
Infinito Superior, dimensão que costumamos chamar de céu, onde tudo é
tranquilidade e o tempo não tem o menor razão de ser. Até mesmo porque o tempo
é uma invenção da humanidade para justificar o ciclo da vida e da morte.
Colocando cada estação, cada momento no seu devido lugar, a fim de entender e
compreender melhor a realidade que vivemos. No Infinito Superior todos os
instantes existem por si só. Pode-se tocar o passado com uma mão e o futuro com
a outra, enquanto os pés ficam no tempo presente. Das ações podem ser
observadas suas consequências assim que são realizadas, mas somente Deus pode
alterar o fluxo dos eventos. Desta feita, seres incapazes de conviver com essa
realidade chegam às raias da loucura. Liberte ali um ser humano, de pensamento
linear, e sua realidade se desmorona como um castelo de cartas.
Nos
recônditos mais distantes do Infinito Superior, nos assim chamados locais que
ponteiam a periferia, a realidade se torna menos abstrata, e tudo é um pouco
mais palpável. Ali, seres superiores tramam e conjecturam mudanças.
–
Caríssimo Jahel, precisamos tomar medidas severas. De alguma forma Hdhel e
Maadel, que foram jogados no fosso sem fim, onde o tempo e o espaço não
existem, desvencilharam-se desse destino cruel. E materializaram-se na Terra.
Isso pode prejudicar nossos planos de assumirmos o poder de nossas hostes. Uma
vez que a queda dos arcanjos que as comandam já está traçada e o empecilho que
aquele dois estava causando parecia eliminado. Subitamente nossos mensageiros-espiões
constataram essa alteração no fluxo temporal, aqueles dois foram arrebatados do
fosso e jogados em outra realidade.
–
O que pretendes fazer então Bessiel? Até que ponto conseguiremos esconder
nossas ações? Como esses dois foram arrebatados? Uma energia desse tipo tem que
partir de esferas superiores! Quem as manipulou?
–
Não sabemos! Por enquanto! Mas iremos descobrir.
Aqueles dois seres transmutados em
pura luz debatiam suas ações inescrupulosas, em meio a um ambiente que supostamente
apenas ideias do âmbito da paz e do amor deveriam ser concebidas. Eram criaturas
belíssimas. Reluzentes por si só, imponentes seres do Infinito Superior.
Servidores da justiça e serenidade. Entretanto, seus pensamentos eram de guerra
e destruição. E seus intentos era a tomada do poder. Na qual, arcanjos
comandantes ou por assim dizer, generais de hostes celestiais, teriam suas
existências postas em cheque.
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Luiza põe a mesa do café da manhã. Vai
até a sala para falar com a dupla especial e convidá-los a desfrutar dos
alimentos preparados. Leite fresco, queijo, um pão caseiro fresquinho, geleia
preparada com frutas do pomar. Mas eles não se encontravam lá. Vai até a
varanda e depara-se com os dois abaixo de uma árvore, olhando para a copa. Aproxima-se
e os chama, mas não obtém resposta. Chega mais próxima e os observa de frente.
Estavam com a cabeça erguida, como quem observava pássaros. Olhos vidrados.
Então ela senta ao pé da árvore e fica admirada com aquela postura. Por cerca
de dez minutos eles permanecem ali, pareciam nem piscar os olhos com uma
expressão séria.
– Vocês estavam fazendo o que?
Pareciam hipnotizados. Estavam tão compenetrados e introspectivos. – pergunta
Luiza.
– Desculpe senhora! Estávamos aqui
tentando escutar alguma coisa. Uma palavra que nos fizesse entender tudo que
está acontecendo. – Comenta Hdhel.
– Como uma palavra? Não entendi o
que você disse. – Luiza fica interessada naquela situação. – Vocês estão
querendo ouvir Deus?
– Senhora Luiza, poucos de nós no
Infinito Superior têm a chance de ver Nosso Deus, somente àqueles que são
comandantes e os escolhidos. Entretanto, sua voz sempre nos chega a todo
instante, para todos. Orientando e nos mostrando o caminho e forma correta de
agir. Portanto, nunca estamos sós. Mas aqui não escutamos sua voz. E estamos
perdidos, sem saber o que fazer. – Hdhel responde com uma tristeza profunda
impressa em sua face.
– Meu caro amigo. Antes de qualquer
coisa, chame-me apenas de Luiza, nada de senhora. E depois, vocês não estão com
fome? Venham provar o meu café da manhã. Depois vou ensiná-los a falar com Deus
através da oração. Mas de qualquer forma, é assim que nós fazemos com a oração
que foi nos ensinada por Jesus: “Pai nosso, que
estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a
tua vontade, assim na terra, como no céu. Dá-nos cada dia o nosso pão
cotidiano; E perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer
que nos deve, e não os conduzas em tentação, mas livra-nos do mal”. Com muita fé, recolhidos em oração,
muitas vezes pedindo pela intervenção de um santo. Na Biblia, logo após o Pai
Nosso, diz assim: ”Pedi, e dar-se-vos-á; buscai,
e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; Porque qualquer que pede recebe; e quem
busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á. E qual o pai de entre vós que, se o
filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará
por peixe uma serpente? Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais
dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”
Nós aqui sempre nos apegamos ao “Padim Ciço”, como diz o povo, o Padre
Cícero. Tenho até uma imagem no meu pequeno altar. Mas eu prefiro orar à Maria.
Especialmente a Nossa Senhora Aparecida. Já alcancei muitas graças, especialmente
após a perda de meu marido. Nos últimos dias tenho me apegado bastante a Maria
e venho pedindo forças para seguir em frente e criar o Carlinhos. Existe maior
graça que receber anjos em casa? Venham! Vamos entrar e desfrutar desse prazer
matinal. Afinal: “Bendizei
ao Senhor, todos os seus anjos, valorosos em poder, que executais as suas
ordens e lhe obedeceis à palavra.”
V
Hdhel e Maadel se admiraram e
deliciaram-se com toda aquela comida deliciosa. Especialmente as geleias de
frutas. Estavam conversando animadamente com Luiza. Contaram de suas ações e o
ponto que culminou com a queda no fosso sem fim. Dessa forma Luiza ficou ciente
que aqueles dois não eram exatamente anjos caídos. Aqueles seres sentados
diante dela, vestindo as roupas de seu marido João Carlos eram seres especiais.
Eles poderiam estar mentindo sobre tudo. Mas Luiza sentiu sinceridade nas
palavras deles e algo dentro dela pedia para acolhê-los e ajuda-los. Eles foram
traídos, sofreram agressões e foram jogados num poço sem fim. Mas com a Graça
Divina foram arrebatados e jogados na Terra. Ali, em Juazeiro, no seu pequeno e
simples sítio, onde agora vivia solitária com Carlinhos, seu filhinho de um
pouco mais de um ano.
Luiza também contou a eles os
acontecimentos dos últimos dias. O acidente de João Carlos e sua súbita morte
por infarto do miocárdio. João era um ótimo homem, grande marido e pai
amantíssimo. Muito trabalhador e empenhado nas coisas do sítio. Depois que
chegaram de Salvador, graças ao dinheiro que ganhou na loteria, montou uma
empresa familiar, onde ele e Maria Luiza vendiam o que era produzido, ainda que
em pequena escala. Toda produção de geleias e queijo coalho era vendida para
comerciantes na cidade. E assim iam levando a vida naquela paz. Mas João
Carlos, como a grande maioria dos homens, não ia regularmente ao médico, nos
seus trinta e cinco anos, achava-se um super-homem e que viveria para sempre.
Resultado, seu coração estava muito mal. Queixava-se de cansaço, mas dizia que
era estresse. E quando se viu num situação grave, já era tarde demais.
– Buaaaa.... – Maadel assustou-se
com um som estridente. Era o Carlinho chorando. –
Não se preocupem. É meu bebê. Despertou e deve estar louco por colo e por seu
mingau. É um garoto forte. Mamou até os sete meses e agora já come tudo com
dezessete meses. Daqui a duas semanas no dia vinte de março ele completa
dezoito meses. O “bichim” já estava começando a dizer “papa”. – Então Luiza
desaba em choro.
Hdhel
se aproxima e a abraça, e diz: – Nós sabemos que a vida não é o fim. Deus tem
um propósito para tudo.
–
É eu sei. Sempre acreditei nisso. E agora, mas do que nunca, sei que Ele nos
ama e olha por nós. Vocês são a prova viva disso. – Então Luiza sai enxugando
as lágrimas e vai ter com Carlinhos.
Alguns
minutos depois ela retorna a sala com Carlinhos nos braços. – Olhem esse é meu
menino. Nasceu aqui no Ceará. Eu já cheguei grávida. Quando conheci João Carlos
em um mês estávamos juntos e casamos o civil. Quando viemos para cá há dois
anos descobri que estava grávida. Então resolvemos casar na igreja antes que
ele nascesse pra poder batizar. Fazer tudo certinho sabe!?
–
É um menino forte e bonito. Certamente Nosso Lorde e Senhor tem uma missão para
ele. Tenho certeza disso. Afinal, eu mesmo salvei a mãe dele. Quem sabe para
que ele pudesse nascer!? – Conjecturou Maadel. Luiza sorriu e olhou para os
dois com profundo agradecimento.
–
Preciso fazer alguma coisa por vocês. As pessoas irão fazer perguntas, querendo
saber quem são vocês. Precisamos contar uma estória, pois não posso sair por ai
dizendo – “Olha! Eles são anjos!” – Caso as pessoas acreditassem seria uma
verdadeira loucura. Vocês não entendem o grau de devoção que as pessoas têm por
aqui!
Luiza
se referia a cidade de Juazeiro, com cerca de duzentos e cinquenta mil
habitantes, um dos maiores centros de religiosidade do Brasil, devido à figura
do Padre Cícero (Padre Cícero Romão Batista),
atraindo milhares de romeiros o ano inteiro. Juazeiro se localiza na região
metropolitana do Cariri, no sul do estado do Ceará, a pouco mais de quinhentos
quilômetros da capital Fortaleza.
–
Quem sabe possa dizer que vocês são meus primos e vieram me dar apoio após a
morte de João Carlos. Afinal fiquei sozinha com o Carlinhos. Seu Joaquim e sua
família foram de uma ajuda ímpar. Estiveram comigo até o enterro. E todo dia
alguém aparece por aqui para ver se preciso de algo. Dessa forma primos... Não
teremos nenhuma surpresa. – Ponderou Luiza.
–
Muito bem! É de fato uma boa solução. E realmente pode contar conosco nas
tarefas. Você terá apenas que nos dar orientações. Nunca trabalhamos num local
como esse. No Infinito Eterno somos anjos que executam tarefas
pré-determinadas, ou ainda, somos capazes de “combater o bom combate”. –
Luiza sorri e segue para o quarto com Carlinhos.
VI
Quatro
meses depois, totalmente ambientados, Hdhel e Maadel estavam colhendo goiabas
do pomar. Já eram três horas da tarde. Luiza se aproximou com uma jarra de suco
para oferecer aos trabalhadores incansáveis. Quando chegaram ao sítio, os dois
não tinham um fio de cabelo no corpo. Entretanto, já se observava cabelos nos
dois intrépidos e suados outrora anjos. Maadel com os cabelos pretos e lisos,
com um metro e setenta e cinco de altura, olhos de uma tonalidade
castanho-claros, pele bronzeada e os músculos estavam bem desenvolvidos. Hdhel
de cabelos castanhos claros cacheados e olhos esverdeados tinha a pele muito
branca. Ambos estavam inclusive com barba.
– Meninos! Trouxe um refresco para vocês. –
Aproximou-se Luiza admirada com o empenho daqueles dois homens, se é que se
pode chama-los de homens. Ao mesmo tempo, encantada, especialmente com Hdhel,
um sentimento forte surgia em sem peito, mas não se permitia externa-lo, pois
se sentia culpada, afinal a pouco mais de quatro meses João Carlos, seu marido,
faleceu vítima de um infarto do coração, tendo antes então escapado de um
acidente na estrada.
–
Luiza, muito obrigado, essa goiabas são fabulosas, o cheiro e o sabor são
maravilhosos. Faremos ótimas geleias com elas. Amanhã teremos colhido todas as
frutas maduras. – Comentou Hdhel. Maadel sorriu e balançou a cabeça
positivamente, já pegando um copo com refresco.
Saborearam
o refresco em meio a uma animada conversa. Inesperadamente Hdhel e Maadel
calaram-se e ficaram com expressão séria olhando para o alto.
–
O que aconteceu meninos? Assustada perguntou Luiza. – vocês finalmente estão
ouvindo a “voz”? – Não recebeu nenhuma resposta. Passaram-se cinco minutos e
eles despertaram daquele aparente transe. – E então? Ouviram a “voz”?
– Luiza! Afaste-se rapidamente! –
Gritou energicamente Maadel. E Luiza deu dez passos para trás.
Aquela tensão ia aumentando. Naquele
momento não se ouvia nenhum som na natureza. Parecia até que nem mesmo as
formiga ousavam se mexer. E os pés de goiabas nem se agitavam com o vento. Os
dois companheiros se deram as costas e ficaram cada vez mais em alerta. Um som
ensurdecedor como um forte trovão ribombou.
– Maadel, como iremos proceder? Caso
venham em um ataque em massa como vamos nos defender? E essa família
maravilhosa que nos acolheu? – Então, sem saber de onde, quatro seres surgem em
volta deles. Pareciam grifos. Corpo de leão, cabeça de pássaro e grandes asas.
Suas garras ostentavam unhas afiadas e duas presas gigantescas saltavam da boca
curvando-se para trás como navalhas. No corpo, no lugar de pelos, surgiam
escamas prateadas como se fosse uma armadura, um exoesqueleto na verdade.
– Divino Senhor! – Dai-nos força
para vencer essa provação. – Suplicou Hdhel. Os seres não expressaram nenhum
som. Apenas os fitavam com olhos ameaçadores. E seguida, um figura humanoide
surge na frente das criaturas.
– Olá companheiros!
– Bessiel!? – Gritou Hdhel. – O que
você quer sua raposa traiçoeira? Nunca fomos companheiros!
– Calma lá! Venho negociar. Queremos
vossa cooperação. Caso nos ajude os levaremos de volta ao Infinito Superior com
vossos status de volta – Bessiel era um dos anjos que tramavam a queda dos
arcanjos e dessa forma, assumiria a liderança de uma das hostes.
– Vocês são traidores sujos e o
lugar de vocês já está reservado. Aguardem a mão pesada do destino! – Maadel
respirando apressado falou.
– Vamos lá rapazes, coopereis, vós
não têm saída. – Bessiel falava enquanto avançava na direção dos intrépidos
heróis.
– Fique por ai mesmo. Não confio em
uma palavra sua. – Hdhel, falando por entre os dentes, expressa um fúria
insana. Enquanto isso, Luiza distante uns vinte metros. Ouvira um forte trovão.
Mas não entendia o que se passava. Hdhel e Maadel começaram a falar com alguém,
mas Luiza nada via.
– Pensem bem. Vós estais aqui nesse
lugar sem suas asas, sem armas e sem poderes. E eu tenho a minha disposição
quatro trunfos. O que vós dizeis? – Bessiel com ar de quem já venceu a batalha
retruca.
– Prefiro morrer aqui. Lutando do
que me arrastar aos pés de ratos como você! – Respondeu Hdhel inflamado.
– Fizestes tua escolha. Agora não
tereis mais volta. Sofreis! Pois as consequências de vossos atos os destruirão.
– Bessiel recuou para trás das criaturas, que rosnaram enquanto escorria uma
baba espessa da boca e os olhos faiscavam de ódio. Eram feras que quando soltas
quase nada poderia parar, somente anjos com armas de luz.
– Prepare-se meu amigo. Chegou o
momento que tanto temíamos. Podemos até perecer aqui, pois agora temos uma vida
como todo mortal. Todavia, não irei esmorecer até a última gota de meu sangue.
– Em postura de defesa, os dois destemidos, sem que nada fizessem, sentiram um
calor interior, e um brilho surgiu em sua volta. – Você sentiu Maadel? Alguma
coisa está acontecendo. – As criaturas saltaram em direção deles, mas ficaram
paralisadas no ar. Em cada mão de Maadel surge uma pequena espada de forma
curvada, com cerca de vinte centímetros. O cabo das espadas era uma manopla e a
lâmina ficava para baixo, com o fio da espada para frente e projetando-se para
o antebraço uma proteção de metal. Já Hdhel, tinha em suas mãos uma arma
comprida como uma lança, feita de um metal reluzente. Em uma das pontas uma
lâmina circular, como uma cimitarra de vinte centímetros e na outra extremidade
uma ponta de lança negra, comprida e afiada. Os dois se olham e sorriem. Então
o tempo volta a correr. As criaturas se precipitam contra eles.
Maadel, com habilidade de quem
participou de diversas contendas, desliza para frente e por baixo escapando do
ataque. Hdhel salta e coloca na boca da criatura sua lança de duas pontas pela
parte lateral da arma. Rodopia apoiado na arma e fica deitado sobre o dorso do
animal olhando para cima, e com um forte movimento, a arma que estava na boca
da criatura é puxada para seu peito, deslocando o pescoço da fera e um forte
estalido é ouvido. Salta e observa a criatura cair. Bessiel fora do combate observa
tudo atônito e não acreditando nos seus olhos. Luiza continuava vendo apenas
Maadel e Hdhel realizando movimentos impossíveis e não enxergava as criatura
nem Bessiel.
Maadel fica de pé em tempo de ver a
manobra realizada por Hdhel, e a queda da fera. A que saltou em sua direção
volta para cima dele, agora acompanhada de uma segunda. – Venham criaturas vis!
Nada temerei! – Elas se precipitam sobre dele. Maadel joga agora o corpo para o
lado, em seguida crava suas espadas circulares no dorso do animal, que
estremece e cai, gira o corpo urrando de dor e em seguida para sem vida. A
segunda investe novamente. E com o antebraço direito protegido pela arma que
usava, recebe uma mordida da fera, que atinge apenas o metal da arma. De frente
então para o perigo, usa a mão esquerda, desferindo um golpe de cima para baixo
com a espada no crânio da fera. Com uma única estocada a lâmina penetra fundo.
Tirando o braço da boca desfere um soco com a manopla e a fera cai estremecendo
em seus pés.
A última das feras estava para
atacar Hdhel. Salta e esse se agacha e usa a ponta de lança por baixo,
atingindo o que seria o coração. A lança penetra fundo até atravessar o corpo
do animal. Tudo foi tão rápido. E da mesma forma que apareceram as criaturas desaparecem
e as armas também. Bessiel sem acreditar no que presenciara, pisca atônito e
some em seguida num brilho. Os dois amigos se aproximam e se abraçam sorrindo,
ainda com a adrenalina acelerando seus corações.
– Você viu Maadel! Ele ainda olha
por nós. Não tem outra explicação.
– Sim meu amigo! Precisamos orar –
Maadel entusiasmado comemora. Luiza nos últimos meses, pelo menos duas vezes
por dia, ajoelhava-se no seu altar, junto com os dois amigos e orava a Deus.
Impossibilitados de ouvir a “voz”, receberam essa graça pela fé que
demonstraram. Luiza vendo os dois se abraçando e rindo se aproxima.
– O que aconteceu aqui? Via vocês
dois saltando e gritando. Agitando-se no ar e realizando movimentos atléticos
como numa luta. Mas não via nada.
– Você não os enxergava? Talvez
tenha sido melhor assim. Fomos atacados e nos defendemos. Nossas armas pessoais
surgiram em nossas mãos na hora da contenda. Foi Deus que olhou por nós. Graças
às orações que aprendemos a fazer com você. – Os três se abraçaram felizes.
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– Bessiel! Como tu levas quatro
caçadores implacáveis, para coagir dois anjos sem asas, caídos naquele lugar de
fracos e retornas de mãos abanando e sem os caçadores?
– Tu não vais acreditar! Eles
estavam ajudando uma humana nas tarefas, perfeitamente integrados como qualquer
outro daqueles. Eu surgi diante deles e fui menosprezado. E para coagi-los joguei
os quatro caçadores sobre eles. Mas do nada, eles conseguiram materializar
armas de luz, espadas e lança. E em poucos minutos colocaram por terra quatro
caçadores com histórico de cem por cento de aproveitamento em todas as missões.
Eles deveriam permanecer completamente impossibilitados de reagir, mas se
comportaram como guerreiro de mil vitorias.
– O que tu estais me contando?
Primeiro eles são arrebatados do fosso sem fim e agora isso! Como pode ser?
Eles realmente estão recebendo ajuda superior. Precisamos localizar de qual
esfera. Enviaremos imediatamente os mensageiros-espiões por toda parte, para os
recônditos mais improváveis do Infinito Superior. Precisamos encontrar alguma
pista que nos leve ao apoiador daqueles dois.
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Passaram-se
três dias depois do ataque, Hdhel e Maadel seguem juntos com Luiza para visitar
a estátua de Padre Cícero. Estavam bem vestidos, de barba feita com os cabelos
cortados.
–
É um maravilhoso monumento. Uma verdadeira ode a fé desse povo que sofre no
sertão! O nordestino esse forte! Tão sofredor na época das secas e na chuva que
em excesso destrói tudo. – Comenta Luiza. – A estátua com vinte e sete metros
de altura, fica aqui na Colina do Horto. Conta à história que no ano de 1889, durante uma missa celebrada
pelo Padre Cícero, a hóstia ministrada pelo sacerdote à beata Maria de Araújo
se transformou em sangue em sua boca. Conforme relatos da época o fenômeno se
repetiu por cerca de dois anos. Entretanto, posteriormente, a igreja disse que
tudo não passava de uma farsa, levando à excomunhão do Padre Cícero, que nunca
foi realmente aplicada.
Atualmente, o Padre Cícero foi canonizado pela Igreja Católica Apostólica
Brasileira. E muitos milagres e graças são atribuídos a ele. Padre Cícero
faleceu com noventa anos em vinte de julho de mil novecentos e trinta e quatro
e sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro também em Juazeiro.
Após a visita a estatua, foram procurar algum
lugar para comer e onde Luiza pudesse aquecer água para preparar o mingau de
Carlinhos. Deliciaram-se com uma carne de sol e baião de dois.
VII
Nos quatro meses em que nossos dois
anjos caídos estiveram na casa de Maria Luiza, hospedados como primos que
vieram em seu auxilio naquela hora tão triste, muita coisa aconteceu. Seu
Joaquim e seus filhos ocasionalmente visitavam o sítio, prestando auxílio sempre
que necessário. Mas sempre estranhavam aqueles dois homens, que apesar de serem
sempre solícitos e amáveis, transpareciam uma aura de mistério.
Eram meados de abril, os dois sempre
estavam junto de Luiza. Aprenderam a orar e sempre nos domingos a acompanhavam
à missa. E após a celebração os dois ficavam de joelhos a orar por quase meia
hora. Um dia Luiza foi mais cedo para aproveitar e confessar-se com o padre
José Luís. Maadel curioso perguntou se poderiam se confessar também. – Como se
confessar? Vocês precisam disso? – E ele respondeu – Afinal não estamos aqui na
Terra com você! E agora somos humanos, servidores do Senhor, e devemos ter as
mesmas obrigações. Foi então ter com o padre a confissão.
– Olá meu filho. Benze-se e ore
comigo o ato de contrição. – Disse o padre.
E oraram juntos: – “Meu Deus, porque
sois infinitamente bom e Vos amo de todo o meu coração, pesa-me Vos ter
ofendido, e, com o auxílio da Vossa divina graça, proponho firmemente
emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender; peço e espero o perdão das minhas
culpas pela Vossa infinita misericórdia. Amem.”
– Você tem alguma coisa para falar
meu filho? – Perguntou o padre.
– Padre! Não sei por que estou aqui!
Eu e meu amigo temos uma missão e temos orado todos os dias a Nosso Senhor
Nosso Deus para nos orientar, mas não temos obtido nenhuma resposta. – Comentou
Maadel.
– “Pedis, e não recebeis, porque
pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.”
Deves orar com afinco filho. Deus nosso Pai sempre nos escuta, mas Ele precisa
enxergar o amor nos nossos corações! E devemos saber que: “Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo
propósito debaixo do céu. Ha tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de
plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de
curar; tempo de derribar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir;
tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de
ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar; tempo de
buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; tempo de
rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de
amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.”
Assim filho, abra seu coração sempre que orar e espere em Deus. “Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem
que se foi e como a vigília da noite.”
“Para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia.”
Se orar com fé tudo é possível! Jesus disse: “se
tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para
acolá, e ele passará. Nada vos será impossível.”
Acalma teu coração filho e segue em paz! Reze um Pai Nosso e uma Salve Rainha!
Maadel
chegou para Luiza exultante. – Luiza! Estou tão feliz! Agora acredito que nosso
Senhor pode ouvir-nos. O padre disse belas palavras e acalmou meu coração.
Venha aqui Hdhel! Quero conversar contigo e contar o que ouvi. – E assim foi.
Os dois nesse dia riram muito, pois acreditavam que tudo era possível.
Após a missa foram tomar um sorvete.
Era a primeira vez que eles iriam provar dessa delicia. – Que coisa gelada! –
Com alegria Hdhel comentou. – Caso um dia voltemos para o Infinito Superior vou
sentir saudades de tudo isso. Especialmente de você e do Carlinhos. – Luiza
então corou. Mas não entendia aquilo. Afinal, amara seu marido e ele partiu há
tão pouco tempo, como poderia sentir algo por aquele homem, que nem homem na
concepção da palavra era. Ele e seu amigo eram anjos. Então ela se lembrou de
um trecho de uma canção que ela gostava: “E um
anjo do céu que me escolheu, serei o seu corpo guardião da pureza... Que é pra
eu cuidar. Que é pra eu amar. Gota cristalina. Tem toda inocência...”
–
Senhor meu Deus – Pensou Luiza. – Apascenta meu coração! Dê-me forças para
cumprir o que quer que tenha traçado para mim! Eu espero em Ti!
Caminharam então na direção do carro
e encontraram Seu Joaquim caminhando para exercitar-se.
– Boa noite Seu Joaquim!
– Oh! Olá Luiza! Boa noite! E boa
noite para vocês também rapazes! Foram à missa então? – Seu Joaquim estava de
calça moletom, uma camiseta branca e tênis, bem diferente de como se veste no
dia a dia.
– Boa noite senhor! – Exclamaram em
coro Hdhel e Maadel.
– Estou cuidando da minha saúde. Meu
cardiologista recomendou fazer caminhadas, mas só tenho tempo à noitinha. Todos
devemos cuidar dessa máquina. Desculpe comentar, mas foi justamente depois do
ocorrido com o Carlos que fui consultar o médico e passei a me cuidar melhor. –
Comentou Seu Joaquim, baixando a cabeça.
– Não precisa lamentar Seu Joaquim!
Sinto falta de meu marido e vou sentir por toda vida. Mas tenho o Carlinhos
para criar. A vida segue em frente. E fico feliz que agora o senhor está se
cuidando.
– Pois então! Deixem-me ir. Tenham
uma ótima noite e uma boa semana. – Seu Joaquim curva a cabeça em reverência e
vira o corpo para atravessar a rua. Todavia, não atentou para o tráfego, afinal
já era noite e domingo, tudo era mais tranquilo. Quando deu por si um caminhão
vinha na sua direção. Foi Hdhel que viu e gritou inutilmente. Alguma coisa nele
agiu de forma abrupta. Saltou como um felino na presa empurrando Seu Joaquim e
rolando junto. O caminhão passou e freou mais na frente.
– Meu Deus do Céu! Quase que
atropelo você “homi”! Se não fosse Deus para alertar esse rapaz o senhor tinha
virado pudim.
Hdhel se levantou e ajudou Seu
Joaquim que estava um pouco arranhado. Sacudiu a poeira da roupa de Seu
Joaquim.
– O senhor está bem? Vi o caminhão e
não tinham outra coisa que pudesse fazer. Gritei mas o senhor não ouviu. Então
minha alternativa foi pular e rolar com o senhor. – Ainda com a adrenalina a
mil, comentou Hdhel.
Seu Joaquim observava Hdhel com cara
de bobo e o abraçou chorando. – Rapaz! Você foi meu anjo da guarda hoje! Muito
obrigado! Que Deus o proteja também! – A partir daquele dia Seu Joaquim passou
a ver aqueles dois com outros olhos. Alguns dias depois até apareceu no sítio
levando mel em favo para Hdhel. – Aqui meu jovem, para adoçar sua vida!
VIII
Estava iniciando o mês de agosto,
Hdhel e Maadel estavam sentados abaixo de um frondoso pé de ipê. Conversavam
sobre tudo que acontecera até ali.
– Maadel, amigo! Temos ajudado Luiza
todos esses meses para compensar a estadia que ela tem nos proporcionado e o
apoio incondicional que ela nos dá. Mas precisamos tomar uma atitude. Já se
passaram quase cinco meses que chegamos aqui. Já lutamos contra caçadores e
incrivelmente armas de luz se materializaram para nós. Temos orado
incessantemente, uma vez que não ouvimos a “voz”. E por tudo que aconteceu
acredito piamente que nosso Deus olha por nós. Mas por que Ele nos deixa aqui?
O que será que Ele quer que nós realizemos ou venhamos a aprender.
– De fato caríssimo Hdhel! Por meus
pensamentos tem passado muitas coisas. Eu sou um anjo da guarda. Busco coisas e
pessoas. De acordo com a missão que sou designado. Você sabe inclusive que
Luiza fez parte de uma dessas missões. Somente Deus sabe o que está reservado
para ela. Mas e você? Fomos convocados juntos para uma missão de reconhecimento
dentro do Infinito Superior. E o que nos aconteceu?
– O que tem a minha pessoa Maadel? –
Curioso pergunta Hdhel.
– Ora amigo! Nós dois sabemos a sua
natureza. Quando nos agarraram e jogaram no fosso sem fim você nem sequer
reagiu. E Aqui quando fomos atacados você foi suave com os caçadores. Por que isso?
– Apesar da minha natureza caro
Maadel, não posso sair destruindo e matando a todos. Isso acontece apenas
quando sou ordenado por forças superiores.
– É eu sei. Imagine se aqueles que
nos atacaram e nos jogaram no fosso conhecessem sua natureza? Não teriam nem
ousado nos fazer mal. Afinal!? Você tem uma missão? Você sabe por que estamos
aqui?
– Sei tanto quanto você amigo. Minha
condição simplesmente me impede de agir com pura força. Não sei se estou me
contendo ou se simplesmente algo está me contendo. Apenas sei que devemos
permanecer em alerta, a qualquer momento podemos ter que lutar novamente.
--------------------X--------------------
Enquanto isso, no Infinito Superior.
Dois seres revestidos de luz dialogam.
– Macalel! Precisamos estar em
alerta. Nossos espiões enviados por todo o Infinito Superior não conseguiram
descobrir absolutamente nada sobre aqueles dois. Por mais que interrogassem e
buscassem informação em várias esferas, não obtiveram um sinal ou uma emissão
de energia irregular que pudesse denunciar o que tem acontecido na Terra.
– Meu caro Jahel, tu já levastes em
consideração que Ele possa interferir nas ações daqueles anjos? Sabemos com
certeza quem eles são? De onde vieram e como se infiltraram em nosso meio?
Nossas ações estão sendo construídas desde o passado até o futuro, com influências
diretas no que realizamos aqui e agora. Em breve teremos força suficiente para
derrubarmos os arcanjos que comandam as hostes e legiões, e então colocaremos
nossos comandados no poder. Tudo arquitetado e pensado na periferia do Infinito
Superior, onde Ele não tem acesso, a não ser por intermédio de anjos enviados.
Assim, quando menos esperar, teremos todo o controle e poderemos ter nossa
própria voz.
– Sabemos que eles eram anjos como
nós. Que executavam missões de busca e de guarda. E que foram designados como
apoio para essa região da periferia. E como estavam interessados por demais em
assuntos que não lhes cabia, metendo o nariz e investigando fatos alheios a
missão primordial e chegando próximo a solucionar ações que deveriam permanecer
incógnitas até o momento final. Os capturamos, suprimimos suas asas e jogamos
no fosso sem fim, de onde não deveriam ter possibilidade alguma de sair. Mas
pasmem de alguma forma foram arrebatados da queda e jogados na Terra, o mais
estranho ainda, foram capazes de rebater o ataque de caçadores, feras que
quando postas em ação nada pode pará-las, ou pelo menos quase nada. E então,
aqueles dois anjos aparentemente sem nenhuma força e apoio, recebem armas de
luz e as utilizam como verdadeiros mestre, quando não deveriam passar de simples
anjos de busca e guarda. Isso também me leva a pensar mais seriamente. E o fato
de nada encontrarmos pode ser um indicativo que nossas ações na periferia podem
ter vazado. E Ele já saber tudo que é preciso. Felizmente não tivemos a
presença de nenhum outro anjo. Mas o que me deixa mais intrigado é o fato de
não terem sequer perguntado por Maadel e Hdhel. – Conjecturou Jahel.
Macalel fica pensativo e comenta. –
Sim, isso é suspeito. Energias desse porte somente são manipuladas das esferas
superiores, através de canais fluidos, que podem ser detectado e rastreados,
mas nem um traço de canal foi encontrado. A energia foi criada já perto deles e
manipulada para gerar as armas de luz. Canais curtos dessa natureza eu nunca
vi. Somente uma fonte de poder muito grande pode realizar tal feito. Portanto,
minha opinião é que devemos agir imediatamente e colocar nossos planos em ação
em vários pontos simultâneos. Fico pensando se devemos ou não dar cabo daqueles
dois ou simplesmente esquecê-los.
– Não podemos ficar parados. Já mobilizei
uma unidade que é insuperável. Irão realizar infiltração, ataque e domínio. E
aqueles dois não terão como reagir. Serão capturados ou eliminados caso
resistam. As ações já estão em andamento. Teremos uma resposta em breve. –
Sorrir Jahel, recebendo um aceno positivo de Macalel.
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– E então Radhiel? Já colocastes
aqueles dois que tu contrataste para vigiar “nossos garotos”? – Perguntou o
mais alto e forte, que era um ser abjeto. Os foram destinados para capturar ou
dar cabo de Hdhel e Maadel – Tu sabes que não podemos falhar.
– Eles já estão a postos, levantando
todos os dados que precisamos. São de uma agência de detetives que contratei em
Fortaleza. Eles pediram uma semana para entregar o relatório. Tive que criar
uma estória mirabolante para que eles não ficassem fazendo perguntas, mas não
sei se acreditaram. – Respondeu Radhiel para o outro anjo.
– Muito bem! Podemos aguardar então.
É o tempo para recebermos reforços que irão nos auxiliar na ação. Então
atacaremos sem piedade. Eles não irão nem saber o que aconteceu. Eu sei que
nessa hora você não estará presente. Não vai querer sujar suas mãozinhas!
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– Maadel! Você sentiu?
– Sim irmão! O vento mudou de
direção e posso sentir o cheiro no ar. Como será possível Eu nunca tive esse
tipo de habilidade. – Respondeu Maadel admirado de seus novos poderes encarando
Hdhel.
– Ahahahah! É a convivência comigo
irmão. Você tem a habilidade de simular ou mimetizar as minhas capacidades.
Poucos são os irmãos capazes desse feito. É preciso muito amor ao próximo para
realizar. Mas é isso. Algo está para acontecer. Alguns seres estão aqui e não
temos como saber o que pretendem até o último minuto.
IX
Era setembro, quase primavera. O ar
exalava um cheiro diferente que chamava para confraternizar a união, e isso
deixava tudo mais difícil. Luiza despertou muito apreensiva. Na verdade nem
conseguiu pegar no sono. Carlinhos tinha chorado muito durante a madrugada, e
Luiza não conseguiu saber o que ele sentia. Foi à cozinha para preparar o café
da manhã e mais uma vez encontrou a mesa posta. Café feito, o pão caseiro
devidamente assado, leite fresquinho. Hdhel era o responsável. Ele fez questão
de aprender a cozinhar, pois para ele comida era o que de melhor existia na
Terra e dizia que os homens eram privilegiados por ter tanta beleza e fartura.
E lamentava saber que tantos não tinham a mesa tais sabores. Entretanto, Luiza
não estava com disposição para comer, não naquela manhã. Tomou apenas um café e
foi para o quarto. Maadel e Hdhel já estavam a mais de meia hora trabalhando no
pomar, preparando a terra com adubo orgânico para a próxima safra de frutas.
Carlinhos ainda chorava muito. Luiza
o pegou e o colocou na cadeirinha no carro. Foi dirigindo até o pomar e avisou
aos nossos dois intrépidos heróis que iria ao médico pediatra do Carlinhos.
Hdhel se ofereceu para ir junto, mas Luiza disse que não havia necessidade, que
poderiam continuar com seu trabalho. Partiu por volta das oito horas da manhã...
Quinze
horas e vinte minutos... Hdhel chega para Maadel e comenta: – Irmão! Será normal
toda essa demora? Já faz muito tempo que Luiza saiu para o médico com o
Carlinhos.
– De fato! Não queria tocar no
assunto, vamos até em casa e ligar para o celular de Luiza. – Os dois seguem
para casa, lavam-se e ligam para Luiza. O telefone toca e ninguém atende.
Tentam um, duas, três vezes e ficam desorientados. Não estavam preparados para
aquela situação. – Já sei! Ligue para o Seu Joaquim, quem sabe ele pode nos
ajudar.
– Boa ideia Maadel. – Hdhel liga
para Seu Joaquim e explica o que estava acontecendo e Seu Joaquim fala que
alguma coisa grave estava acontecendo com o Carlinhos para ela não ter
retornado para casa, nem atender ao telefone. Combina que passaria daqui à uma
hora e caso Luiza não tivesse retornado iriam até a cidade para buscar
respostas.
– Estou preocupado Maadel! Aquela
sensação de dias antes voltou e essa demora da Luiza não parece um bom sinal.
Tem algo estranho no ar e não apenas o mal estar do Carlinhos. Algo está
acontecendo.
Dali a alguns minutos Seu Joaquim
chegou e perguntou se Luiza havia retornado. Então os três partiram rumo ao
centro da cidade. Foram à clínica cujo endereço Luiza havia deixado na mesa do
telefone.
– Boa tarde senhorita! – Disse Seu
Joaquim para a atendente da clínica.
– Bom tarde senhor em que posso
ajudar?
– Por favor, caríssima. Minha amiga
Luiza veio com seu filhinho, o Carlinhos para uma consulta médica logo pela
manhã cedo e já são dezessete horas e ela não retornou para casa. Você poderia
me dizer se o Carlinhos foi internado?
– O senhor não é da família?
– Sou um grande amigo e vizinho
dela. Mas esse dois são primos e moram com ela. Ela é viúva.
– Sei! – Disse a atendente olhando
séria para os três. – Deixe-me ver. Eu sei quem é dona Luiza. Aqui está Antônio
Carlos de Oliveira. Ele foi atendido logo cedo pelo doutor Mario. Na ficha diz
que ele estava com dores de ouvido, foi medicado e liberado. Portanto, ele não
foi internado.
Os três saíram da clínica muito
apreensivos e combinaram de procurar informações por perto. O dia estava
terminando e precisavam agir rápido. Meia hora depois se encontraram e não
constataram nada. Súbito, um morador de rua os interpelou.
– Ei! Vocês estão procurando a dona
Luiza?
– Sim, você a conhece? – Perguntou
Seu Joaquim.
– Ela é uma mulher muito boa. Sempre
que vem aqui no centro me traz algumas frutas maduras. Hoje ela chegou e nem
falou comigo. Entrou direto na clínica com o menininho. Algum tempo depois
quando saía, um carro grande parou e dois homens a colocaram dentro e partiram.
Tentei ver a placa, mas não tinha nenhuma. Procurei os soldados que andam na
praça e eles me botaram pra correr. Para procurar o que fazer.
– Isso é muito sério! Vamos até a
delegacia para iniciar uma busca. Você vem conosco.
Na delegacia explicaram o ocorrido e
o que presenciou Manezim, o rapaz morador de rua e de como foi tratado pelos
soldados. O delegado disse que lamentava o ocorrido, e que iria investigar a
negligência dos soldados. Porém, quanto ao desaparecimento teriam que aguardar
vinte e quatro horas.
– Como vinte quatro horas. Ela foi
sequestrada. Sabe lá Deus por quem! Vocês precisam agir. – Muito nervoso Seu
Joaquim partiu para cima do delegado.
– Calma Seu Joaquim! Sei que o
senhor está nervoso, mas o melhor é ir para casa. Caso tenha sido sequestro
eles podem entrar em contato para pedir resgate. Rezar a Deus para esperar o
melhor. Torcer para que peçam resgate e que ela possa retornar sã e salva com o
filhinho. Vou designar uma viatura para ir até o sítio com vocês. De repente
até já ligaram e não encontraram ninguém.
– Tudo bem! Talvez o delegado tenha
razão. – Disse Hdhel. – Vamos Seu Joaquim. Precisamos retornar para o sítio.
Saíram e retornaram para a casa do
sítio. Seu Joaquim estava muito nervoso. Parecia que uma filha tinha
desaparecido. Hdhel e Maadel no íntimo pareciam desconfiados de algo. Mas não
poderiam comentar. Entraram e sentaram no sofá. Seu Joaquim liga para sua casa
e informa o que estava acontecendo. Senta-se e súbito o telefone toca.
– Pois não! – Disse Hdhel.
– Olá Hdhel! Exclamou uma voz no
telefone.
– Quem é? Como sabe quem está
falando?
– Calma anjinho! Como não saberia
quem está falando? Eu pensava que tu serias mais perceptivo. Esqueceu quem
arrancou tuas asinhas. Ahahaha!
– Miserável! O que você fez com
Luiza? Se mexer num fio de cabelo dela você vai se ver comigo. Fala logo o que
quer!
– Calma, calma! Vós não sois páreos
para mim. Já vos esquecestes de antes foi? Nós vos queremos. Depois ela está
livre.
– E o Carlinhos? Ele estava doente.
– Não somos tão cruéis. O garotinho
foi medicado e já está melhor. Ficaram bem se fizeres tudo que ordenarmos.
– O que querem que façamos?
– Estamos num galpão na periferia da
cidade. Pela manhã ligo novamente e digo como fazes para chegares aqui, e não te
esqueças de trazer teu amiguinho. Boa noite anjinho. – Desligou em seguida sem
dizer mais nada.
– Eram os sequestradores? –
Perguntou seu Joaquim. – O que querem de resgate?
– É muito delicado Seu Joaquim. –
Respondeu Hdhel. – Eles querem a mim e Maadel.
– Como assim? Você conhece os
sequestradores?
– Mais ou menos! Sente-se Seu
Joaquim! Vamos contar para o senhor o que aconteceu. Peço que escute com
parcimônia. No final faremos tudo para que os dois retornem sãos e salvos. –
Hdhel iniciou e vez ou outra Maadel intervinha para acalmar Seu Joaquim. Contaram
como tudo se sucedeu com suas ações e o primeiro ataque. Seu Joaquim olhava
atônito e sem acreditar no relato daqueles dois.
– Calma lá! Vocês querem que eu
acredite que são dois anjinhos e que tudo ficará bem. Não me venham com
lorotas.
– É sério Seu Joaquim! Não estamos
dizendo que tudo ficará bem, mas faremos o possível para que Luiza e Carlinhos
voltem em paz para casa. Apegamo-nos muito a eles. Esse que nos ligou não é
exatamente um anjo, pelo menos não é mais. Ele e seus asseclas pretendem de
alguma forma obter regalias daqueles que querem dominar uma região do Infinito
Superior.
– Você quer dizer que eles querem se
rebelar contra o céu.
– Algo assim. – Hdhel levanta e
chama Maadel. – Levante a camisa irmão. – Viraram-se, levantaram a camisa e
mostraram a cicatriz. Exatamente igual nos dois. – Veja Seu Joaquim! São as
marcas das nossas asas que foram arrancadas. Foi esse que nos ligou que fez
isso.
– Oh minha nossa! O que é que isso?!
Vocês querem dizer que aqui tinha um par de assas nas costas de vocês? – Seu Joaquim
toca nas cicatrizes de Hdhel e Maadel. Não pode ser! Vocês de fato são anjos? –
Seu Joaquim se ajoelha em frente deles.
– Que é isso Seu Joaquim! Não somos
santos! Somos anjos que caíram! Somos seus amigos e queremos que Luiza saia
ilesa dessa contenda. Pela manhã eles ligarão e saberemos para onde ir. Até lá
precisamos orar e traçar uma estratégia. O senhor precisa retornar para sua
casa. Descanse e, por favor, não comente com ninguém o que lhe contamos. Pode
ser perigoso.
– Agora entendo vocês! Todo o
cuidado e atenção que mantinham por Luiza e Carlinhos. Esse amor incondicional
que apresentavam. Somente sendo seres divinos. Deus de bondade obrigado por
essa dádiva! Depois de tudo isso eu não vou conseguir pregar o olho. Vou para
casa sim. Tentar tranquilizar todos por lá. Muito cedinho retorno, e não façam
nenhuma ação sem minha presença. Tenham uma boa noite. – Seu Joaquim abraça os
dois e sai. Então os dois intrépidos se ajoelham em frente ao altar e rezam por
uma hora. Depois se sentam à mesa para traçar uma estratégia de contra-ataque.
– Irmão! Amanhã pela manhã quando
nos encontrarmos com aquele, como poderemos proceder sem por em risco Luiza e
Carlinhos? – Muito preocupado pergunta Maadel. – Caso venhamos a usar armas de
luz novamente poderemos arriscar suas vidas. Afinal são muito frágeis. Isso é,
caso as armas de luz se materializem.
– Maadel! Maadel! Talvez tenha
chegado nossa hora. Provavelmente será melhor nos entregarmos e propor a
libertação dos dois. Antes nós do que eles. Assim retornaremos para o Infinito
Superior. Quem sabe lá recebamos ajuda!?
– Nos entregar! Depois de todo
esforço que realizamos? Será realmente o melhor a fazer? E você? Não vai partir
com tudo? – Excitado comenta Maadel.
– É muito arriscado irmão! Gosto
demais daqueles dois. Não quero ter essa culpa em meus pensamentos. Quando nos
informarem o caminho e a localização desse galpão, nós iremos até lá, até
prefiro ir sem o Seu Joaquim, seria mais um em perigo. E pedimos que eles
libertem Luiza e Carlinhos. Quando estiverem a salvo partiremos com eles. –
Planeja então Hdhel.
– Muito bem Hdhel, você sempre foi o
estrategista. Confio no seu discernimento. Só espero que eles também queiram
assim. Agora vamos descansar um pouco. Precisamos dormir para repor nossas
forças, seja qual for à ação empregada!
X
Era o dia vinte de setembro.
Primavera. Pelas cinco horas da manhã Seu Joaquim chega. Hdhel e Maadel estavam
preparando o desjejum. Seu Joaquim sentou a mesa e ficou observando aqueles
dois que se diziam anjos. Comportavam-se como qualquer pessoa normal. Iam de um
lado a outro realizando tarefas. Hdhel saiu e retornou com um balde de leite.
Enquanto Maadel preparava tapioca e colocava queijo coalho de recheio. Seu
Joaquim passara a noite quase em claro se questionando sobre o que eles
contaram na noite anterior. Rezou bastante e tinha formulado diversas perguntas
para fazer a eles. Tudo pronto. Sentaram para tomar café e deliciarem-se com
aquelas tapiocas.
– Seu Joaquim! Sabemos que o senhor
quer ajudar. Nós conversamos e oramos muito esta noite. Traçamos nossa
estratégia de ação. E concordamos que será melhor que o senhor não se envolva
nessa ação. Será muito perigoso e não queremos coloca-lo em risco também,
aqueles seres são muito imprevisíveis. – Explanou seu ponto de vista Hdhel
tendo a concordância de Maadel.
– Nem pensem nisso meus caros.
Também orei muito, eu e Marieta minha mulher. Pedi a Deus discernimento sobre o
que me disseram e luz para fazer a coisa certa. Tive em sonho a resposta. Um
ser luminoso me apareceu. Tocou minha cabeça e disse: “Joaquim! Nada temas! Tu
estás amparado por seres gloriosos! Eles farão a coisa certa na hora certa!” E então
acordei. Já eram quatro e meia. Então tratei de levantar, orei novamente, me
despedi de Marieta e vim ter com vocês.
– Seu Joaquim! O senhor não sabe o
quanto nos alegrou com essa mensagem! Pois desde que aqui chegamos temos orado
sempre e nunca obtivemos resposta. Agora poderemos agir na certeza de Nosso
Senhor. Obrigado! – Disse Maadel se levantando junto com Hdhel e abraçando-o.
Após o café, Maadel deixou Hdhel na
sala com Seu Joaquim para atenderem ao telefone quando tocasse e foi lidar com
as tarefas mais básicas do sítio, como alimento e água dos animais, limpar as
baias. E alimentar as galinhas. Nove horas da manhã o telefone toca e Hdhel
atende.
– E então anjinho? Pronto para
partir? – Aquele que sequestrou Luiza debocha ao telefone. – Venham até mim
como cordeirinhos e eu liberto a mulher com o garotinho. Nada vai acontecer a
eles.
– É bom mesmo ser ignóbil! Esses
dois são puro ouro! Você é nada diante deles! – Hdhel desafiou então aquele. –
Trate-os muito bem ou vai se ver comigo!
– Tolo! Não passam de macaquinhos! E
tu não tens capacidade de me enfrentar. Tenho que lembra-lo do que sou capaz?
Posso quebra-lo como um graveto!
– Você é que não sabe de nada!
Diga-me logo o endereço e vamos ter contigo.
– Pois bem! Ao saírem do local que
estão em direção a essa cidade, sigam em frente, não entrem à esquerda. Iram se
deparar com uma parada de ônibus à direita e na próxima entrada á esquerda
entrem. Sigam sempre em frente e verão o prédio que estamos. – Orientou aquele.
Hdhel contou a Seu Joaquim o que
conversaram ao telefone. Seu Joaquim disse que conhecia o local, uma vez havia
feito uma grande entrega de madeira para retelharem o prédio. Então Hdhel saiu
para chamar Maadel e preparam-se para partir. Dez em meia estavam na estrada.
Onze horas viram o galpão. Hdhel fica petrificado por um instante.
– O que houve caro Hdhel? Está tudo bem? –
Pergunta Seu Joaquim.
–
Lá dentro! Não tem apenas anjos! Há caçadores. Não sei quantos. E alguns seres
abjetos como aquele que nos admoestou. Está muito arriscado Seu Joaquim. Mas
sei que não vai adiantar dizer que saia daqui. Você sentiu mais alguma coisa
Maadel?
–
O mesmo que você! E sei que eles não estão ai para brincadeiras. Serão capazes
de qualquer coisa. Devemos ter muito cuidado nas ações. Nunca imaginei que
tantos seres abjetos estariam envolvidos nas ações realizadas por aqueles da
periferia do Infinito Superior!
–
De fato meu irmão! Será uma contenda complexa. Vamos! Não podemos ficar aqui
parados! – Hdhel foi descendo do carro e respirando fundo. – Seu Joaquim! Por
favor, se possível não fales nada. Caso perguntem o que faz ali, deixe que nós respondamos.
Eles não costumam gostar de humanos e reagem muito agressivamente. A propósito!
No último ataque Luiza não os via. Pode ser que o senhor não enxergue nada lá
dentro ou apenas alguns. Mas saiba que lá está infestado de seres. E os que
chamamos de abjetos são os que vocês costumam chamar de demônios. São muito
instáveis. Foi um deles que nos arrancou as asas. Nossos irmãos foram muito
imprudentes em dar acesso a ele no Infinito Superior, ainda que na periferia
onde sorrateiramente construam seus planos sórdidos. Seres abjetos
desestabilizam onde tocam. Principalmente no Infinito Superior onde tudo parece
ocorre ao mesmo tempo e passado e presente se tocam no instante presente.
Durante
alguns instantes ficaram observando o galpão. Seu Joaquim comentou que tudo
parecia tranquilo, e estranhou o fato de não ter vigias na parte externa.
–
Claro que estão. – Respondeu Hdhel. – Exatamente como falei. Eles estão
imperceptíveis a sua visão, mas estão ai. Em cima do galpão tem exatamente oito
seres em forma de animais. Aqui embaixo vários abjetos de diferentes tamanhos.
Vai ser um páreo duro. Seu Joaquim, nossa prioridade é preservar Luiza e
Carlinhos de toda forma. Cogitamos nos entregar para que eles os libertem. Mas
temos que contar com a possibilidade deles não quererem liberá-los. E se isso
acontecer teremos que lutar por nossas vidas. Percebe como é arriscado! Não são
seres humanos que estão lá dentro. São anjos e demônios. Numa união
inconcebível. Contrariando a ordem natural do universo. Uma união profana para
subjugar uma parte ou o todo Infinito Superior.
–
Sim meu anjo guerreiro! Percebo e tenho completa consciência do que está
acontecendo. Mas acredito na mensagem que recebi. Vocês dois são seres
gloriosos, que lutam pelo amor, verdade e justiça.
–
Puxa! Fico até envergonhado com tanta admiração! Espero que possamos responder
a altura. – Comenta Maadel. – Afinal nossa missão é apenas servir ao Nosso
Senhor. Servir e realizar a vontade Dele. Precisamos fazer o que é certo. E
também temos a obrigação de preservar sua vida Seu Joaquim. Seria melhor se
ficasse no carro.
–
Vim até aqui. Não é. Vou entrar e fazer a minha parte. Não estou despreparado.
Trouxe uma arma para ajudar. – Seu Joaquim puxa uma Magnum 45, com pente de dezesseis
balas e uma na agulha. – E tenho munição extra.
–
Que é que é isso Seu Joaquim!? É Uma arma e tanto! Mas provavelmente não terá
uma eficácia muito grande diante dos nossos adversários. Apenas armas de luz
podem subjuga-los. Vamos orar para que possamos materializá-las caso
necessário. – Hdhel comenta apreensivo. – Caso aconteça uma luta, procure
manter distancia da ação. Temo por sua
segurança. Não se envolva numa luta diretamente. OK!?
–
OK! Estou ciente do perigo. Vamos entrar. – Resoluto, seu Joaquim se põem a
frente do grupo. Hdhel troca olhares com Maadel sorriem e seguem em frente.
XI
Demora
um pouco para os olhos de Seu Joaquim se adaptarem ao ambiente. Então perceber
ao fundo, sentada numa cadeira estava Luiza e ao lado havia um berço. Atrás
dela de pé tinham dois homens, com cara de poucos amigos. Um era alto de
cabelos claros e vestia um terno branco, com camisa e gravata branca, e era de
uma palidez muito estranha. O outro estava de camiseta preta e jeans, sua
brancura da pele também contrastava com o preto da camiseta.
–
E então anjinhos? Temos um caso inacabado para resolver. Pediram-me que os
levassem inteiros, mas vou adorar arrancar mais alguns pedaços. Que tal? Vocês
estão a fim de ser meu prato principal? – Aquele, todo de branco, inicia a
conversa.
–
Queremos apenas o que for melhor para nossos amigos. Deixe-os ir, vocês podem
ficar conosco. Partiremos sem contratempos. – Hdhel pondera tranquilamente.
–
Pensa que é simples assim? Estou adorando ter esses macaquinhos comigo. –
Aquele se curva para o berço e pega Carlinhos. – Esse pequenino até que é
simpático. Sabe que ele não chorou nem uma vez depois que veio para cá. Nós
tratamos muito bem dele. Sua mãe estava desesperada por ele, pois estava
doentinho. Imaginem que maldade uma criancinha doente. Mas nós compramos o
remedinho dele e ele sarou. Não é lindinho. – Então ele aproxima Carlinhos da
boca e passa a língua em seu pezinho, era uma língua longa e de duas pontas. –
Não é uma delicia!
–
Seu inominável doente! Não aproxime essa língua torpe do menino! – Maadel
avança com uma ira nos olhos que nunca teve antes. Mas Hdhel o segura firme,
pois sabia que não era hora para perder a cabeça. Era exatamente isso que aquele
queria. – Sua aparência externa está muito boa, mas sabemos o torpe que há
dentro dessa pele de cordeiro. Vil e ignóbil ser. Largue o Carlinhos já estamos
aqui, não é?
–
Olha só! O anjinho está cheio de si! Esqueceu o que fiz com você antes. Vou
adorar arrancar algo a mais. Venha aqui passarinho! Quero sentir que gosto você
tem.
–
Calma Maadel! Não caia na provocação dele. Precisamos ponderar pela segurança
de nossos amigos. E quanto a Luiza seu torpe!? Por que ela está assim? De olhos
vidrados sem perceber nossa presença? – Intrigado pergunta Hdhel.
–
Ela estava arredia, não queria cooperar. Então um amiguinho meu tomou conta do
corpo dela.
–
O que você está me dizendo ser abjeto? Um demônio está possuindo o corpo de Luiza?
Você não poderia ter feito isso. Vamos ter muita dificuldade para limpá-la! –
Agora Hdhel estava ficando nervoso também. Pois ele sabia que uma pessoa
possuída, por mais limpa que você a deixa, sempre fica um pouco do mal que a
habitou. Afinal de contas todos têm um lado bom e um lado ruim. E esse contato pode
fazer o lado ruim amadurecer. É preciso muita oração e fé para purificar-se
novamente.
–
Pois passarinho! Resta saber se eu não vou querer ficar com ela! Parece que ela
é tão saborosa quanto o filhinho! – O ser abjeto fala todas essas palavras com
um sorriso de escárnio. Desejando que Hdhel e Maadel reajam às provocações.
Pois assim teria desculpa para leva-los despedaçados.
Hdhel
já estava antevendo que não seria possível negociar com o abjeto, e começou a
compartilhar os sentimentos de Maadel. Olho então para seu companheiro com um
olhar que os dois já sabiam o que significava e disse para o Seu Joaquim. – Seu
Joaquim! Dê alguns passos para trás. Procure ficar com as costas voltadas para
a parede. E em hipótese algum, veja bem, em hipótese alguma, permita que algum
ser abjeto o fixe no olhar. É assim que eles tomam conta de um corpo. Através
dos olhos. Essa estória vai descambar para uma peleja violenta. – Hdhel levantou
a cabeça olhando para o teto do galpão, e soltou um grito agudo altíssimo. E
então, todos os seres que estavam invisíveis tornaram-se deléveis. Até mesmo
Seu Joaquim podia agora visualizá-los. Muitos estavam pendurados no teto do
galpão. Outros na parede fixos por ventosas. Mais alguns apareceram em volta
dos dois que já estavam com Luiza. Quanto a anjos, não havia nenhum em forma
humana. Hdhel e Maadel perceberam a presença de apenas quatro, mas esses eram
anjos na forma de feras, como as que os atacaram antes, caçadores, e estavam
mais ao fundo.
–
Vocês não têm chance alguma. Dê-me uma oportunidade para demonstrar meu poder.
Vamos lá passarinhos! Congelaram de medinho? – O abjeto de branco falou rindo e
passando a língua bifurcada nos lábios.
–
Por que você não tenta então. – Desafiou Hdhel também com um sorriso. – Vai ficar um
gosto amargo na sua boca.
–
De três! Agoraaaaa! Ataque esses passarinhos! – Nesse instante desceram das
paredes os seres com ventosas. Possuíam as mais diversas formas. Três que
partiram para cima de Maadel tinham a forma de anfíbios, foram logo saltando em
cima dele e rolaram no chão com ele. Maadel executa movimento giratório com o
corpo deitado no chão, os braços em frente do rosto em forma de escudo. Vai
girando deitado e ao mesmo tempo erguendo o corpo. Os abjetos que estavam
grudados por meio das ventosas são projetados para longe contra a parede. Hdhel
sofre um ataque mais duro. Um dos que estavam de pé, e que tinha a forma
humana, salta e o atinge com os pés, e Hdhel é jogado ao chão. Para então,
outros dois com ventosas saltarem sobre ele e com a língua projetada em forma
de esporão, penetrarem no seu corpo. Hdhel grita novamente, mas desta vez de
dor. Seu Joaquim estava perplexo. Nunca na vida teria imaginado tal visão.
Demônios estavam atacando dois anjos, que embora caídos, até aquele momento só
tinham realizado coisas boas. Apontou sua arma na direção de Hdhel e disparou
dois tiros certeiros. Os seres que estavam sobre Hdhel receberam o impacto na
cabeça. Rolaram para o chão expelindo uma gosma marrom.
Maadel
e Hdhel ficaram de pé. Um ao lado do outro. Dessa vez, do teto caíram os
abjetos que lá estavam pendurados. Possuíam a forma de símios. Cabeça grande e
peluda, assim com o corpo, com presas protuberantes e afiadas. Já vieram
urrando e saltando em sua direção, apoiados nos longos braços.
Hdhel
e Maadel assumiram posição de defesa, e nesse momento, foram envolvidos por uma
luz. O tempo parou. Literalmente dentro do galpão. Algumas feras que haviam
saltado ficaram no ar. Outras ainda no chão com a boca espumando. Na mão
direita de Maadel surgiu uma arma que era uma ponta metálica de cinquenta
centímetros de comprimento. Projetava-se por cima do pulso e tinha um apoio na
mão e na direção do cotovelo tinha uma peça de metal envolvendo o braço e dela
saia pontas afiadas. Na sua mão esquerda tinha um escudo retângulo, de um metro
de comprimento por cinquenta de largura, reto, que tinha no comprimento o
desenho de Miguel com uma espada e no cento uma ponta de vinte centímetros. Um
arco de um metro e meio surgiu na mão de Hdhel e em suas costas uma aljava
carregada de flechas.
Então
o tempo voltou a correr. Hdhel saltou para uma parte elevada do galpão e
começos a desferir flechas sobre os seres abjetos. Cada vez que um era atingido
desaparecia numa nuvem negra que também se dissipava. E a aljava nunca secava.
Maadel recebeu o impacto de uma das feras simiescas sobre o escudo e foi
projetado para a parede. Essa mesma fera salta sobre ele recebe uma estocada
pela lateral do corpo. Inclina-se na direção de Maadel abrindo a boca, com a
intenção de morder o rosto dele. Mas Maadel realiza um movimento com o braço
direito, na qual a boca do símio abocanha o braço e nessa hora, as peças afiadas
lhe atravessa a boca saindo pela cabeça. Maadel o empurra e sai correndo e
desferindo golpes na direção das feras que não eram atingidas pelas flechas de
Hdhel. Usava o escudo com a ponta para atingir alguns e penetrava outros com a
arma da mão direita. Os dois apresentavam então habilidades incríveis. Saltando
e rolando. Correndo de um lado para o outro. Atingindo as feras e os seres
abjetos na forma humana. E o máximo que levavam eram arranhões. Seu Joaquim
continuava atirando, percebeu que tiros na cabeça eram mais eficazes. Embora
todas as criaturas alvejadas sempre se levantavam depois de um certo tempo,
pois era necessário atingi-las com armas de luz.
O
ser abjeto vestido de branco gritou bem alto. – Chegaaaaa! – Todos pararam. Até
mesmo Maadel e Hdhel. Olharam na direção dele, que estava com Carlinhos nos
braços e outro tinha uma faca no pescoço de Luiza. O momento era muito
delicado. No início parecia que tudo estava sob o controle dele. E de repente
parecia que os “passarinhos” estavam virando o jogo. “Mas agora não!” Pensou
ele. “Vou acabar com esses dois passarinhos agora!” Um dos abjetos em forma
humana pulou na direção do Seu Joaquim e acertou com as garras na barriga, jogando-o
no chão.
–
Virão passarinhos? Pensam que podem acabar com tudo? Seu amiguinho já levou a
pior. Agora são esses dois aqui! Uma palavra minha e ela perde a cabeça e o
pequenino vai ser minha refeição!
Hdhel
se vira e observa Seu Joaquim caindo ao chão e escuta as palavras do abjeto.
Nesse instante ele abre os braços, grita novamente de forma ensurdecedora. Uma
luz mais ofuscante brilha por todo seu corpo. O tempo para. Então, um par de
asas azuis enormes crescem em suas costas. No mesmo instante sua aparência se
transfigura. Fica com dois metros de altura e volta a ficar sem cabelos como no
início. Surge uma armadura preta e vermelha no lugar das roupas que usava. Em
sua mão esquerda uma espada com duas lâminas de trinta centímetros, cada uma
indo em direção oposta assim como fio das espadas. O tempo volta a correr.
Hdhel com um movimento da mão direita faz com que o abjeto que tinha Luiza
dominada simplesmente evapore em uma nuvem negra. E com um gesto apenas,
Carlinhos surge em sua mão.
–
Hdhel! Irmão! Já estava na hora desse exterminador que vive em seu interior
aparecer! – Grita Maadel.
–
Ora, ora, ora! Então o passarinho é na verdade um anjo exterminador! Sempre
quis saber a extensão dos poderes de um exterminado. Venha aqui penoso!
Deixe-me arrancar essas suas novas asas!
Sem
dizer uma palavra Hdhel entrega Carlinhos para Maadel e salta até o abjeto,
desferindo um golpe com a perna que faz com que ele atravesse todo o galpão e
choca-se contra a parede.
–
Não vai ser assim tão fácil passarinho! – Então o ser abjeto cresceu. Ficou com
dois metros e meio de altura. No lugar dos cabelos escamas eriçadas e o rosto
vermelho. Usava uma armadura negra. E em sua mão direita uma espada. Correu na
direção de Hdhel e desferiu golpes com a espada que foram rebatidos pela arma
de luz. Hdhel soca o ser abjeto no rosto e esse recua alguns metros.
Desmaterializa-se e surge atrás de Hdhel e o atravessa pelas costas. Num
segundo Hdhel desaparece e ressurge com a espada no pescoço do ser abjeto, que
sorrir e diz sorrindo: – Muito bem passarinho! Você acha que pode cortar minha
cabeça? Vai em frente! Tente! – Hdhel simplesmente toca o ombro do ser abjeto e
esse volta para a forma humana de antes. – Como você fez isso? – Hdhel ergue o
braço direito do abjeto e com a espada, decepa bem no cotovelo. Então o ser
abjeto dar dois passos para trás com o braço sangrando um líquido negro.
Assustado, ergue o braço esquerdo e some juntamente com os demais que restaram.
–
Graças a Deus! – Gritou Maadel e então Hdhel volta para a forma humana. Mas
suas asas permanecem. – Ei! Não é justo! Você tem asas novamente! – Maadel
coloca Carlinhos no berço e Hdhel caminha até ele e toca o ombro e asas crescem
nele. Os dois se abraçam sorrindo. Maadel vai socorrer Seu Joaquim e Hdhel
coloca Luiza em seus braços toca sua cabeça e ela abre os olhos.
–
Agora estou morta e fui para o céu com meu anjo da guarda! – Ela fala sorrindo
e tocando as asas de Hdhel. – Que lindas! Cresceram novamente?
–
Agora está tudo bem! Eliminei qualquer traço do abjeto que estava em você.
Consegue se levantar? Tem um menininho ali esperando por você. – Hdhel então
ajuda Luiza se levantar e apoia na caminhada até o berço.
Maadel
toca na ferida aberta na barriga de Seu Joaquim, que estava acordado e viu toda
cena e no mesmo instante cicatriza. – “Nem
murmureis, como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador”.
Gloria ao Senhor! E ao seu exército de anjos! – Clama Seu
Joaquim. Vocês são maravilhosos! Vejo anjos caminhando na Terra e sinto a
presença de meu Senhor.
--------------------X--------------------
Estavam
de volta ao sítio, Luiza conversava com Seu Joaquim na sala após alimentar e
colocar Carlinhos para dormir. Sentido a ausência da dupla salvadora,
levantam-se e saem da casa para procura-los. Encontram Hdhel e Maadel fitando a
copa do vigoroso ipê do centro do pomar. Os dois estavam serenos e com um leve
sorriso no rosto. Não estavam mais ostentando suas asas para não chamar atenção
indevida. Luiza os chamou mais não responderam. – Venha aqui Seu Joaquim,
sentemos ao pé da arvore. – Ali ficaram mais meia hora admirando aquela cena,
vez ou outra fazendo algum comentário sobre os eventos por quais passaram. Uma
vez que Luiza nada lembrava, Seu Joaquim a atualizava os eventos ocorridos.
Então os dois despertaram sorrindo.
–
E então? Vão nos contar o que se passa ou não? – Perguntou Seu Joaquim.
–
Nós nunca deixamos de sermos anjos! Embora tenhamos caído na Terra. Apenas não
ouvíamos mais a voz. Mas agora até isso recuperamos. – Falou empolgado Maadel.
–
E o que ouviram afinal? Estavam ai olhando para cima com olhar vidrado e
sorriso no rosto. Alguma coisa muito boa vocês ficaram sabendo. – Fala Luiza
muito feliz.
–
Ele está feliz conosco! Agimos bem! Mas não podemos retornar para o Infinito
Superior. Devemos permanecer aqui e continuar com nossa tarefa. Temos muito por
fazer. Os homens precisam de orientação e ajuda. Outros como nós já estão aqui.
Poderemos precisar deles a qualquer momento. Foram deixados sobre nossa
responsabilidade. Os abjetos estão em toda parte e vocês humanos necessitam da
nossa orientação. Temos que agir conforme os desígnios de Deus. Então Seu
Joaquim de mãos postas olhou para o céu e disse: – “Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos, valorosos
em poder, que executais as suas ordens e lhe obedeceis à palavra.”
GUIAJUANORTE. Monumento ao Padre Cícero é
maior símbolo do Ceará aos olhos do mundo. Disponível em:
<Juanortehttp://www.juanorte.com.br/guiaestatua.html> Acesso em: 01 mar
2013.