Em
instantes tudo ficou claro, meu coração disparou e quase explodiu em mil pedaços.
Estava sozinho e nada podia fazer, olhei para o alto e gritei, chorei como
criança, resmunguei... Nada pude fazer. Uma sensação de incapacidade me inundou
e pesou sobre meu corpo a culpa insana.
Sei
que agi impensadamente, fiz daquele momento uma coisa eterna, e parei no tempo.
Quis eternizar a mim e a tudo em minha volta. Minha mão como clava baixou em
golpes velozes e potentes, sem nenhuma arma, sem nenhuma piedade.
Desferi
inúmeros pontapés e gritos de insanidade, violência, louca vida. Matei o obvio,
assassinei o impensado, metralhei meu ponto de apoio, encurralei o meu destino.
E agora estou aqui comigo mesmo, matando dia-a-dia minha vontade de construir a
serenidade dos meus dias. Por alguma razão ainda fiquei, creio que apenas para
sofrer mais, para sentir o sangue jorrar de meu corpo vazado, cravado de balas invisíveis.
O
dinheiro em minhas mãos, ainda manchado de sangue, o nariz irritado, a
respiração descontrolada, o corpo tremulo... Onde deixei o cachimbo? Pesado,
mas o desejo de saciar a vontade de mais uma cheirada é maior, assim como uma
pitada da pedra queimando no cachimbo improvisado.
Estou calmo, sereno, mas a que custo... Por uma alma, que
agora segue um caminho desconhecido, e eu sou o culpado por isso, por uma... Alma.
Matei,
roubei, cheirei e agora traguei esse fumo pesado, jamais leve, que desce pelo
meu peito adentro e mesmo assim, me alivia momentaneamente, até quando? Ainda
resta um pouco de grana... E depois? Outro furto? Outra morte? E meu descanso
quando chega? Será que terei o perdão de Deus? E a redenção final?
Outra
noite... Outro dia, novas ações praticadas... ahhh! Que dor incessante, que
supina loucura de meu eu. Tenho que saciar essa desvairada vontade, sufocar
essa inquietação, essa coisa... que não sei explicar.
Vejo
uma jovem senhora com sua bolsa a balançar, pobre inocente vítima. O que
poderei obter dela, será que tem muito a oferecer? Caminho atrás, sorrateiramente, e na primeira
oportunidade, com um movimento rápido, jogo-a de encontro a um beco, acuando-a
na parede... O dinheiro passa, passa!!! Cadê as joias!!! Passa o relógio
Ela assustada,
sem voz e trêmula dos pés a cabeça, mal conseguindo me encarar vai passando
tudo que tem. Sua mão agitada na bolsa... Minha pressa de realizar o serviço...
de repente, ela puxa um pequena arma, me afasto assustado.... Bang! Bang! Ela
me atingiu no peito!!! Vadia desgraçada!!! Sinto o sangue jorrar... A boca
seca... O olhar distante... E ela lá, a me observar, ainda tremendo deixa cair
a arma. Pessoas se aproximando.
Ahhh!
Que Dor... Tum! Tum! Tum!... Sinto o coração falhando... Deus eu não fiz por
mal, mas tinha que parar essa dor angustiante que passei a sentir desde a
primeira tragada da pedra maldita... Tum!... Tum!... [...] ... Tum!
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