sábado, 2 de novembro de 2013

Um anjo na minha vida

         UM ANJO NA MINHA VIDA

Irineu Lima de Albuquerque

           Essa é uma história da vida real. Nasci em Fortaleza – CE, no mês de abril de 1968, era o décimo quinto dia e chovia toda água do céu.  Por volta das sete horas da manhã aquele choro chamou a atenção de todos. Meu pai ficara viúvo e tinha sete filhos, e poucos anos depois se casou com minha mãe. Ele com cinquenta e quatro anos e ela vinte e cinco. Pouco tempo depois nasceu meu primeiro irmão – ele nasceu com alguns problemas, era um tipo de autismo, ficou cego e vivia no seu mundo – lamento profundamente não ter vivido mais próximo dele. Os médicos deram poucos anos de vida, mas ele viveu até os dezesseis anos.
Nasci quatro anos depois de meu irmão. Um dos meus irmãos por parte de pai, o Lucio, tratou logo de entrar no quarto, quando já estava nos braços de minha mãe, e examinou todo meu corpo, desde a cabeça aos pés para ver se eu era normal. Não que meu primeiro irmão tivesse algo errado no corpo, mas apenas para se certificar. Lucio foi o mais próximo de mim, até o dia em que ele partiu para São Paulo para ganhar a vida. Fui privilegiado no início, cresci numa família grande, mas que depois infelizmente foi ficando reduzida, até ficar apenas eu, minha mãe e meus três irmãos que nasceram depois. Meu pai morreu quando tinha onze anos e meus irmãos por parte de pai se afastaram, meu irmão mais velho morreu um ano depois.
Mas por outro lado tivemos outra família, vizinhos de quintal, mas que a frente ficava para outra rua. Eu os chamava de Pai Ângelo e Mãe Menininha, tinham sete filhos e eram como irmãos para mim, o mais chegado era o Ronam – o único homem e afilhado de meus pais – sempre ajudavam em tudo, nos trabalhos da escola, e eu passava sempre as datas festivas junto com eles, eram como um espelho para mim.
Bom, o momento da minha vida que quero contar foi seguinte. Eu tinha poucos meses de vida, e minha mãe estava desesperada, pois eu estava com uma disenteria muito forte.
– Meu filho está se acabando com diarreia – dizia ela. E estava em casa sozinha. Meu pai ainda trabalhava naquela época. Mamãe era do interior. Bonito, um distrito de Canindé - CE, e cresceu tendo como referência as rezadeiras. E naquele dia, saiu apressada de casa para uma rezadeira que ela conhecia e que era muito boa. Colocou-me no colo enrolado com um cobertor e foi andando pelas ruas. Segundo ela me contou depois que cresci, andava tão apressada que não via nada, mas se chocou contra uma pessoa que visualizou bem, um homem alto, forte e careca. Dobrou a esquina e se chocou outra vez.
– Valha! Como pode? É o mesmo homem lá detrás. – Andou mais um pouco e duas ruas depois – Bum! – Lá estava ele, mais um choque e minha mãe contou que se tremeu toda. Entretanto, desta vez, aquele homem segurou minha mãe pelo braço.
– Calma senhora! Para onde vai com tanta pressa? – Perguntou ele.
– Meu filho está se vazando todo, e vou levar ele para a rezadeira – replicou minha mãe, ainda assustada com aquele homem.
– Não se avexe não senhora! Venha aqui comigo nessa farmácia.
– Mas não trago dinheiro nenhum não senhor. Como vou pagar por remédio.
– Não se preocupe, não quero que se desespere. Deixe por minha conta. – Ele entrou com minha mãe naquela farmácia, que providencialmente estava ali perto, e comprou um remédio para minha mãe que mal teve tempo de agradecer ele se foi. Pouco depois ela chegou à casa da rezadeira.
– Entre Mara, minha filha. Vou rezar por esse menino, mas ele já vem curado. – Disse Dona Mazinha, a rezadeira. Minha mãe olhou para ela desconfiada.
– Como assim?
– Um anjo tocou o menino! Conte tudo para mim o que aconteceu. – Minha mãe então falou do caminho e do encontro com aquele estranho homem, e do remédio que ele comprou.
– Cadê o remédio minha filha, vamos logo dar para esse menino. – Depois ela me pegou nos braços e rezou, utilizando um ramo de pião verde, até ficar murcho. Mamãe me disse que logo depois eu estava rindo e ela me deu de mamar. Ela contou que guardou a caixa do remédio, mas que simplesmente desapareceu da casa.
Assim me considero abençoado por Deus. E esse foi só um dos episódios de minha vida, que tenho certeza absoluta, foi por intervenção divina e ajuda dos Anjos do Senhor. Meu Anjo da Guarda. Talvez por isso, hoje sou Farmacêutico.

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