segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coração ferido

O texto abaixo escrevi a algum tempo, quado estava estudando sobre os efeitos provocados em usuários do maior terror urbano moderno, o crack.


Em instantes tudo ficou claro, meu coração disparou e quase explodiu em mil pedaços. Estava sozinho e nada podia fazer, olhei para o alto e gritei, chorei como criança, resmunguei... Nada pude fazer. Uma sensação de incapacidade me inundou e pesou sobre meu corpo a culpa insana.
Sei que agi impensadamente, fiz daquele momento uma coisa eterna, e parei no tempo. Quis eternizar a mim e a tudo em minha volta. Minha mão como clava baixou em golpes velozes e potentes, sem nenhuma arma, sem nenhuma piedade.
Desferi inúmeros pontapés e gritos de insanidade, violência, louca vida. Matei o obvio, assassinei o impensado, metralhei meu ponto de apoio, encurralei o meu destino. E agora estou aqui comigo mesmo, matando dia-a-dia minha vontade de construir a serenidade dos meus dias. Por alguma razão ainda fiquei, creio que apenas para sofrer mais, para sentir o sangue jorrar de meu corpo vazado, cravado de balas invisíveis.
O dinheiro em minhas mãos, ainda manchado de sangue, o nariz irritado, a respiração descontrolada, o corpo tremulo... Onde deixei o cachimbo? Pesado, mas o desejo de saciar a vontade de mais uma cheirada é maior, assim como uma pitada da pedra queimando no cachimbo improvisado.
            Estou calmo, sereno, mas a que custo... Por uma alma, que agora segue um caminho desconhecido, e eu sou o culpado por isso, por uma... Alma.
Matei, roubei, cheirei e agora traguei esse fumo pesado, jamais leve, que desce pelo meu peito adentro e mesmo assim, me alivia momentaneamente, até quando? Ainda resta um pouco de grana... E depois? Outro furto? Outra morte? E meu descanso quando chega? Será que terei o perdão de Deus? E a redenção final?
Outra noite... Outro dia, novas ações praticadas... ahhh! Que dor incessante, que supina loucura de meu eu. Tenho que saciar essa desvairada vontade, sufocar essa inquietação, essa coisa... que não sei explicar.
Vejo uma jovem senhora com sua bolsa a balançar, pobre inocente vítima. O que poderei obter dela, será que tem muito a oferecer? Caminho atrás, sorrateiramente, e na primeira oportunidade, com um movimento rápido, jogo-a de encontro a um beco, acuando-a na parede... O dinheiro passa, passa!!! Cadê as joias!!! Passa o relógio
Ela assustada, sem voz e trêmula dos pés a cabeça, mal conseguindo me encarar vai passando tudo que tem. Sua mão agitada na bolsa... Minha pressa de realizar o serviço... de repente, ela puxa um pequena arma, me afasto assustado.... Bang! Bang! Ela me atingiu no peito!!! Vadia desgraçada!!! Sinto o sangue jorrar... A boca seca... O olhar distante... E ela lá, a me observar, ainda tremendo deixa cair a arma. Pessoas se aproximando.
Ahhh! Que Dor... Tum! Tum! Tum!... Sinto o coração falhando... Deus eu não fiz por mal, mas tinha que parar essa dor angustiante que passei a sentir desde a primeira tragada da pedra maldita... Tum!... Tum!... [...] ... Tum!

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